Embora a salvação da nossa alma seja inteiramente gratuita, o discipulado tem seu custo.
É relativamente fácil aceitar a oferta de salvação feita por Jesus, desde que a mesma não requeira nada do homem, senão crer. Porém, tornar-se discípulo é um verdadeiro desafio, e somente aqueles que converteram-se inteiramente ao Senhor são capazes de aceitá-lo.
Quando aceitamos a oferta da salvação, recebemos a Cristo como nosso Salvador pessoal. A partir daí, nossa entrada na Eternidade está garantida pelo sacrifício feito por Jesus na cruz. Sua cruz foi o preço pago pelo nosso ingresso no Reino Eterno de Deus.
Deus, entretanto, deseja ser visto, não apenas como Salvador, mas também como Senhor.
A palavra grega traduzida como “Senhor” em nossa língua é Kírios. Infelizmente, em nosso idioma a palavra “senhor’ não tem o mesmo peso que em outras línguas.
Para nós, “senhor” lembra um ancião, ou o tratamento que devemos dispensar aos mais velhos. Porém, “Senhor” na Bíblia tem um sentido muito mais forte. Quando a Bíblia afirma que Jesus Cristo é o Senhor, ela quer dizer que Ele tem o direito de governar todas as coisas, e exercer completo domínio sobre elas.
Quando chamamos Deus de “Pai”, estamos afirmando que ocupamos a posição de filhos em relação a Ele. Quando O chamamos de “Salvador”, afirmamos que somos pecadores carentes de salvação. Quando O chamamos de “Senhor”, estamos nos posicionando como servos, sujeitando-nos à Sua vontade, em detrimento da nossa.
Como filhos, nós O amamos. Como pecadores, somos gratos a Ele por Sua salvação. Como servos, colocamos nossa vida inteira a Seu dispor.
Não é fácil abdicar-se da própria vontade, em favor da vontade de Deus.
Este é o preço do discipulado! Se não estivermos dispostos a pagá-lo, não veremos o propósito eterno de Deus cumprido em nossa vida.
Repare bem nas palavras de Jesus:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Qualquer que não tomar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Se algum de vós está querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar... Da mesma forma, qualquer de vós que não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.”
LUCAS 14:26-33 .
Eis a “prova dos nove”. Se não houver, por parte do cristão, a disposição de renunciar a tudo, ele não estará apto a ser discipulado.
O preço do discipulado é a renúncia.
Renunciar, aqui, significa “abrir mão do que possui”, “não fazer questão de nada”.
Quando Jesus falava acerca do preço do discipulado, muitos O abandonavam. Aquele tipo de mensagem era um verdadeiro filtro, uma espécie de triagem. Quem estava apenas interessado nas bênçãos, logo batia em retirada. Porém, quem desejava uma vida aos pés de Deus continuava a seguí-lO.
Hoje em dia, há um anti-evangelho sendo pregado por aí. Um evangelho que coloca Deus a serviço do homem. Segundo este “evangelho”, ao homem cabe ordenar, decretar, cobrar de Deus, “colocá-lO na parede”. Enquanto que a Deus cabe trabalhar incessantemente pela satisfação pessoal dos Seus filhos. E ai d’Ele se não provar que realmente é Deus! Há quem se dispõe a rasgar sua Bíblia!
O verdadeiro evangelho coloca o homem a serviço de Deus.
É claro que Deus deseja a satisfação dos Seus filhos. Não é disto que descordamos. O que não aceitamos é colocar Deus na posição de servo, e o homem na posição de “Senhor”.
Através do discipulado aprendemos que o homem é chamado para o serviço de Deus. E para serví-lO, o homem deve ser capaz de abrir mão de tudo.
Jesus diz que o discípulo deve ser capaz de aborrecer a sua família, e até a sua própria vida para seguí-lO. Se não houver esta disposição, ele estará desqualificado.
Quando Jesus emprega o verbo “aborrecer”, Seu objetivo é enfatizar, reforçar o sentido da frase. Não se trata aqui de aborrecer por aborrecer, e sim, aborrecer devido à opção feita por seguir a Jesus. Ele queria deixar bem claro que a decisão por seguí-lO poderia causar enormes perdas aos Seus discípulos. Até mesmo laços familiares poderiam ser momentaneamente quebrados, caso a família não compreendesse a opção feita pelo discípulo.
Talvez alguém ache tudo isso muito radical. E na verdade é.
Optar pelo discipulado é correr o risco de ser mal interpretado, criticado e até escarnecido.
Jesus nunca intencionou enganar os Seus seguidores. Eles precisavam saber que havia um preço, e que este preço deveria ser calculado.
Felizmente, muitos aceitaram o desafio. E foi por causa desses que o evangelho chegou a nós. Veja o exemplo de Paulo. Ele abriu mão de toda uma reputação, por amor a Cristo. E isso ele fazia com alegria. Ele mesmo confessou:
“Mas em nada tenho minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.”
ATOS 20:24.
Em outra passagem Paulo diz: “Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo.” (Fp. 3:7-8).
Será que vale a pena renunciar a todas as coisas por Cristo?
Não é tão difícil renunciar a algo que nos é prejudicial. Por exemplo: renunciar a um vício. Desde que o Espírito Santo nos mostra o quão prejudicial nos é manter um vício, torna-se mais fácil abandoná-lo.
Agora, abrir mão de algo que nos é lucrativo parece bem mais difícil.
Somente o Espírito Santo pode capacitar-nos a agir assim.
Lembre-se que o eterno propósito de Deus para nossa vida é que nos assemelhemos a Cristo. E o que Cristo fez? Ele renunciou a Sua própria vida.
Paulo escreve:
“NÃO ATENTE cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.”
FILIPENSES 2:4-8.
Renunciar a tudo que tem não é fazer voto de pobreza, ou dar tudo para uma instituição de caridade ou uma igreja. Renunciar é não atentar mais para aquilo possui. O foco de sua vida não é mais os seus bens, sua reputação. O foco da sua vida agora é Cristo. Não se trata de deixar de possuir bens materiais, e sim, de não mais viver em função deles, ou não deixar-se possuir por eles.
O cristianismo pregado em muitos púlpitos não passa de uma pálida imitação do verdadeiro cristianismo. Não há verdadeiro cristianismo se não houver cruz, renúncia, morte do “eu”.
Desde aquela época, já se pregava um cristianismo “água com açúcar”. Paulo mesmo reclama disso, quando diz: “Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus”(Fp.2:21).
Porém, o verdadeiro evangelho propõe uma mudança radical na forma de pensar e agir do indivíduo.
Paulo expressa esta mudança ao dizer que “o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu.” (II Co. 5:14- 15).
Esta é a essência do discipulado: viver para Deus!
quinta-feira, novembro 23, 2006
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Um comentário:
A cruz precisa ser carregada; não temos liberdade de passar por cima dela ou de evitá-la
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