sexta-feira, novembro 21, 2008

Disciplina na Igreja

por F. Solano Portela Neto

Introdução

Nossas igrejas estão sempre tendo problemas relacionados à disciplina de membros. Se a igreja é fiel e bíblica ao disciplinar, há a necessidade de que todos os membros compreendam as bases bíblicas para tanto; se a igreja é falha, é necessário que todos se conscientizem das razões dadas pelas Escrituras para a aplicação da disciplina e dos perigos e conseqüências de negligenciá-la.

Esse é, portanto, um tema sempre relevante. Não se trata de um caminho opcional para a administração da igreja, mas de uma trilha necessária, que deve ser entendida, acatada, apoiada e aplicada, para que tenhamos saúde espiritual em nosso meio.

O exercício da disciplina na igreja é algo tão importante que o reformador João Calvino a considerou, ao lado da proclamação da Palavra e da administração dos sacramentos, uma das marcas que distinguem a igreja verdadeira da falsa. Ou seja, na igreja falsa não somente está ausente a pregação das inspiradas Escrituras e os sacramentos são antibíblicos, ou incorretamente administrados, mas ela é negligente, também, na preservação de sua pureza moral e doutrinária. A igreja, às vezes, não segue os passos e objetivos de disciplina eclesiástica delineados na Palavra de Deus. Quando negligencia essa área, passa a abrir mão da identidade peculiar dos seus membros, perante o mundo. O resultado é que a autoridade na pregação e o testemunho do Evangelho ficam prejudicados.

Não queremos desenvolver um espírito de censura gratuita, no qual enxerguemos sempre o argueiro no olho do irmão antes da trave que está no nosso. Mas precisamos despertar um senso de comportamento bíblico que faça justiça ao nome de Cristo e que não envergonhe o Evangelho. Isso começa com o cuidado sobre a nossa própria vida e deve se estender pela nossa igreja local.
A disciplina, exercida com amor, pelas razões especificadas na Bíblia e com os objetivos que ela prescreve, deve ser exercida na esfera pessoal e apoiada e compreendida quando já estiver na esfera do Conselho da Igreja, ou de outras autoridades superiores.

Queremos examinar alguns textos bíblicos que se relacionam com a disciplina na igreja. Alguns outros tratam igualmente desse assunto, mas os que apresentaremos são fundamentais à nossa compreensão. Com o seu exame, oramos para que sejamos despertados ao apreço da pureza tanto do indivíduo como da igreja visível.

1. O perigo da falta de disciplina

Paulo, escrevendo à igreja da Corinto (1 Co 5.1-13), alerta para os perigosque sobrevêm quando se é negligente na aplicação da disciplina. Nesse trecho lemos:

"Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai. E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade. Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor."

Notem, no trecho, os seguintes pontos que o Espírito Santo fez registrar para a nossa instrução:

a. O pecado na igreja entra em choque com o seu caráter santo, mas ele ocorre. Não é negando a realidade de sua existência que resolvemos o problema. No versículo 1, ele diz: "...há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios...". Ou seja, o que estava ocorrendo naquela igreja chocaria até os descrentes, mesmo com sua visão dissoluta.

b. Muitos pecados atingem um estágio público e notório. Esse mesmo versículo 1 começa com as palavras: "Geralmente, se ouve que há entre vós...". A questão não era privada, de mais fácil resolução e aconselhamento, mas já se espalhara, chegando até ao conhecimento de Paulo, que se encontrava distante.

c. Acomodação e orgulho. A falta de ação revelava acomodação da consciência individual e coletiva ao pecado, em forma de rebeldia e soberba. No versículo 2, Paulo se espanta que aqueles irmãos "... não chegaram a lamentar" toda aquela demonstração de vida em pecado. Paulo diz ainda que eles se achavam "ensoberbecidos", ou seja, se orgulhavam da postura tomada em vez de estarem conscientes do mal que era causado ao testemunho do Evangelho. Ainda sobre a ausência de disciplina naquela igreja Paulo diz: "... não é boa a vossa jactância..." (v.6). Eles nada haviam feito, portanto, para "... tirar do meio" o que havia praticado aquilo que o próprio Paulo chama "ultraje" e "infâmia" (v.3). Quando a disciplina não é exercida, nossas consciências vão sendo cauterizadas e conformamo-nos ao modo de comportamento do mundo e, também, deixamos de nos chocar, de identificar o contraste com a forma de vida prescrita para o servo de Deus. Paulo ensina que a ação correta era a exclusão daquele membro (v. 5) – ele deveria ser "entregue a Satanás", ou ser considerado como descrente, pois o seu modo de vida não testemunhava uma conversão verdadeira. Estaria, portanto, sob o domínio de Satanás. Essa constatação não era para ser feita individualmente, mas corporativamente, pela autoridade e no poder de Cristo. No versículo 4 ele escreve: "...em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor...".

d. O perigo especificado. Paulo diz (vs. 6 e 7): "...Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento." A igreja era para ser "massa sem fermento" – pura. A admissão de um pouco de fermento, apenas, atingiria toda a massa. Ou seja, deixar que o comportamento incompatível com a fé cristã permaneça no seio da igreja, sem disciplina, significa pôr em risco a saúde espiritual de toda a comunidade.

e. As marcas da Igreja. Paulo ensina (v. 8) que a igreja deve ser conhecida pela "...sinceridade e verdade..." e não pelo "...fermento da maldade e da malícia".

f. O esclarecimento quanto à associação. Paulo reconhece que o mundo é constituído de impuros. Ele diz que não está ensinando que a igreja deva se isolar do mundo. Existindo no mundo ela terá contato com "...avarentos, ou roubadores, ou idólatras..." (v.10). Mas ele reforça que não deve haver "associação com impuros" (v.9) e explica quem são esses a quem ele chama de impuros, no versículo 11 – é aquele que "...dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador...". Ou seja, é aquele que professa a fé cristã, mas tem comportamento imoral ("impuro"); ou tem afeição descabida pelas suas próprias posses materiais ("avarento"); ou o que distorce a religião verdadeira por sua prática ou ensinamentos ( "idólatra"); ou o que tem o hábito de caluniar ou de espalhar boatos ("maldizente"); ou o que está sob o domínio de substâncias que impedem o comportamento racional ("beberrão") – nas quais estão a bebida alcoólica e, certamente, as drogas –, em vez de sob o controle do Espírito Santo; e, finalmente, o que demonstra ganância e não respeita a propriedade alheia ("roubador").

g. A rigidez da disciplina – A necessidade era a de se exercitar "julgamento interno" (v.12) contra o "malfeitor", expulsando-o do seio da igreja (v. 13). Esse julgamento deveria ser evidente a todos e deveria ser sentido pelo disciplinado; isto é, ele deveria sentir que a comunhão fraterna havia sido atingida pelo seu pecado: "com esse tal, nem ainda comais". Muitas vezes membros, com boas intenções, confundem o desejo legítimo de restauração do disciplinado com um apoio prejudicial ao mesmo. Não se limitam a indicar que estão em oração, mas colocam "panos quentes" na ação do Conselho. Muitas vezes os disciplinados são alvo de um aconchego e atenção após a disciplina que não somente minam a autoridade da igreja, mas são prejudiciais ao próprio disciplinado, que deixa de sentir os efeitos danosos da falta de comunhão que o seu pecado causou. A advertência de Paulo é dura, mas devemos orar a Deus por sabedoria para saber como aplicar essa exortação com respeito a membros disciplinados por pecados graves nas nossas igrejas, de tal forma que eles sintam que algo mudou e que a comunhão procedente do Espírito é restaurada mediante o arrependimento sincero e o testemunho verdadeiro de uma conversão real.

h. O objetivo final – Não podemos esquecer o objetivo final de Paulo com a disciplina, especificado no versículo 5: "...a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus." O objetivo era a salvação daquela alma disciplinada. Essa deve ser também a nossa visão: consciência da necessidade da disciplina, percepção dos perigos da sua falta de aplicação, apoio à sua aplicação correta no caso de comportamento anticristão contumaz, oração e desejo de arrependimento pelo disciplinado.

2. A autodisciplina e o ensino de Jesus sobre os passos da disciplina na igreja

Jesus Cristo, em Mateus 18.15-22, nos deu, de uma forma bem detalhada e inteligível, os passos necessários para o exercício da disciplina corporativa (na igreja). Entretanto, antes que o pecado se concretize em ações contra alguém e antes que atinja um caráter público, a Palavra de Deus nos dá admoestações sobre o exercício da autodisciplina. A palavra grega traduzida como temperança ou autocontrole (egkratea – um dos aspectos do fruto do Espírito, em Gl 5.23) significa, apropriadamente, a disciplina exercida pela própria pessoa, quer pelo estabelecimento de limites próprios, que não devem ser ultrapassados, quer na avaliação dos próprios pensamentos e atitudes que, se concretizados, prejudicariam alguém e desagradariam a Deus. O livro de Provérbios nos fala sobre a importância de controlar nosso próprio espírito (16.32), nossa língua (17.27 – "reter as palavras") e nossa ira (19.11 – "tardio em irar-se" na Versão Corrigida). Certamente o exercício coerente da autodisciplina, na vida dos membros da igreja, reduz a necessidade da disciplina eclesiástica.

O texto de Mateus 18.15-22, diz o seguinte:

"Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.
Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.
Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete."


Os passos ensinados pelo nosso Senhor Jesus Cristo, para aplicação em nossa vida comunitária, como membros da igreja visível, são esses:

Passo 1 – Contato individual, pessoa a pessoa. Em Mt 18.15, lemos: "Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão". Não devemos esperar que a parte ofensora venha pedir perdão, quando pecar contra nós. Jesus nos ensina que nós, quando ofendidos, devemos tomar a iniciativa para ter uma conversa discreta e individual com o nosso ofensor. Essa admoestação, em si só, já é importante para o nosso crescimento em santificação. Abordar o ofensor vai contra o nosso orgulho, mas é uma atitude típica da humildade que Cristo requer de nós, como cristãos. Cristo não oferece garantias de que teremos sucesso, mas se o ofensor der ouvidos à nossa admoestação individual, ganharemos o irmão, no sentido em que o impediremos de cometer pecados mais sérios contra outros, bem como construiremos um relacionamento mais sólido, em Cristo, com aquele irmão ou irmã.

Passo 2 – Contato com dois ou três. O versículo 16 aprofunda o contato e o envolvimento corporativo no processo de disciplina. Ele deve ocorrer se o contato individual for infrutífero, se o irmão ou irmã não der ouvidos à abordagem prescrita anteriormente. O v. 16 diz: "Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça". Quando é a hora certa de passar do passo 1 ao passo 2? Devemos pedir a Deus discernimento e sabedoria para ver quando não há mais progresso no contato individual e está caracterizado que a parte ofensora não "quer ouvir".

Nesse caso, a abordagem deve ser exercida com mais uma ou duas pessoas, como "testemunhas". Serão testemunhas do problema ocorrido, ou testemunhas do contato que está sendo realizado? Creio que não são testemunhas do problema, pois se o fossem a questão já seria pública e não limitada às duas pessoas, como indica o v. 15. São pessoas que deverão testemunhar e participar do encaminhamento do processo de disciplina, da exortação, do aconselhamento, objetivando que o faltoso "ouça". Não são testemunhas silentes. O verso fala do "depoimento" delas.

Passo 3 – Contato com a Igreja. O versículo 17 apresenta uma mudança enorme no encaminhamento da questão. O faltoso recusou a admoestação individual e a conjunta de dois ou três membros. Jesus, então, determina: "... se ele não os atender, dize-o à igreja...". O "dizer à igreja", em uma estrutura presbiteriana, equivale a relatar ao Conselho. Em uma estrutura congregacional, relatar à Assembléia. Em qualquer situação, o relato, agora, deve ser feito pelo primeiro irmão ou irmã e pela outra ou outras testemunhas, envolvidas no Passo 2. A continuidade da frase, neste mesmo versículo, mostra que o propósito de "dizer à igreja" continua sendo o da admoestação. Não é só uma questão de veicular notícias, mas a de visar a exortação do ofensor, que agora será feita "pela igreja", ou pelos representantes constituídos e eleitos por ela. Infelizmente, muitos pecados públicos e já amplamente divulgados no seio da comunidade só são tratados a partir deste estágio. Muitas vezes aqueles mais próximos ao faltoso deixaram de aplicar os passos 1 e 2, ao primeiro sinal da ofensa. A igreja é, então, surpreendida com o pecado realizado, divulgado e comentado, restando aos oficiais apenas tomar o processo a partir deste passo. Humanamente falando, quem sabe pecados maiores não teriam sido evitados se a abordagem individual, prescrita por Jesus, tivesse sido realizada.

Passo 4 – Exclusão. No final do versículo 17 Jesus diz "...se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano". A recusa no atendimento às admoestações, a atitude de arrogância e desafio às autoridades, retratada em 2 Pe 2.10-11 e Judas 7-8, devem levar o faltoso à exclusão da igreja visível. Ele (ou ela) deve ser considerado como um descrente ("gentio") e deve ser cortado da comunhão pessoal da mesma forma como os coletores de impostos ("publicanos") eram desprezados pelos judeus. Somente evidências de arrependimento e conversão real poderão restaurar essa comunhão cortada pela disciplina. Com essa exclusão vão-se também os privilégios de membro, como a participação na Santa Ceia, e os demais. Jesus demonstra a necessidade de respaldar essa drástica atitude na sua própria autoridade e na do Pai. Isso ele faz nos vs. 18-19, mostrando o seu acompanhamento e o do Pai, nas questões da igreja que envolvem a preservação de sua pureza. Ele fecha essas instruções com a promessa de sua presença na congregação do povo de Deus (v. 20). Essas são palavras de grande encorajamento para que a igreja não negligencie a aplicação do processo de disciplina em todos esses passos.

3. Outros textos e pontos importantes sobre a disciplina na igreja.

Necessitamos abordar outros pontos adicionais sobre a disciplina na igreja. Os textos seguintes mostram que a disciplina não se restringe apenas ao comportamento imoral ou que deva ser exercida somente contra aqueles que se desviam da prática correta da sexualidade:

a. A disciplina deve ser aplicada contra os que causam dissensão e divisão. Paulo, em Tito 2.15-3.11, diz o seguinte:

"Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze.
Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens.
Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.
Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis. Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada."


Paulo está exortando a Tito para que exerça sua autoridade, como líder da igreja, ensinando, exortando e repreendendo os membros da igreja para que não sejam difamadores e briguentos. Antes, devem ser obedientes, cordatos, corteses, não somente para com os crentes mas para com os descrentes também. Ele lembra a Tito e a nós que características condenáveis já fizeram parte da personalidade e do modo de vida de muitos de nós, antes da salvação, mas pela graça e misericórdia de Deus fomos regenerados pelo Espírito Santo e transformados para as boas obras. Devemos, portanto, evitar discussões fúteis e sobre assuntos secundários que não levam a lugar algum. A pessoa facciosa, que quer causar divisão, deve ser admoestada uma e duas vezes, mas depois disso deve ser evitada, ou seja, excluída, por recusar as advertências e por preferir viver em pecado.

b. Os que ensinam doutrinas falsas, bem como os que as praticam, devem ser disciplinados. Novamente, Paulo, em Rom. 16.17-20, ensina que a igreja deve afastar os que causam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina por ele ensinada. O texto diz:

"Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal. E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco."

Paulo especifica o perigo existente nas palavras daqueles que procuram os seus próprios interesses, mas falam suavemente, com palavras de elogio, enganando o coração dos incautos.
No livro de Apocalipse, 2.12-16, João registra as palavras de Cristo, advertindo a Igreja de Pérgamo, e a todas as nossas igrejas (2.17), contra aqueles que procuram incitar o povo de Deus a práticas contraditórias à fé cristã. Ali lemos:

"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes: Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca."

A menção à doutrina de Balaão, no v. 14, identifica o ensinamento dos que possuem motivos pessoais, rasteiros, aqueles que, mesmo com linguajar que aparenta honrar a Deus, não estão preocupados com a santificação da igreja, mas se empenham em destruir as linhas demarcatórias de comportamento que identificam o povo de Deus e os distinguem do mundo ("comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição"). A doutrina dos nicolaítas é igualmente condenada (v. 15). Essa é também uma referência aos que advogavam uma vida dissoluta e imoral no seio da igreja. Na carta anterior (à igreja de Éfeso), as obras dos nicolaítas foram condenadas. Agora a menção é contra a sua doutrina. Notem que a condenação e a chamada ao arrependimento vêm para toda a igreja (vv. 14 e 16), por não exercer a disciplina e por conservar tais pessoas em seu meio.

c. A disciplina deve ser exercida com precaução e deve ser divulgada. Em 1 Tm 5.19-22, temos o ensinamento de que as denúncias devem ser substanciadas, não aceitas levianamente:

"Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam. Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade. A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro."

Cautela é prescrita especificamente para as denúncias contra os oficiais (v. 19 – "duas ou três testemunhas"), mas o princípio de que deve haver substância e provas, nas denúncias, é genérico. O outro ensino deste trecho é que a disciplina dos que "vivem no pecado" (v. 20) se exerça "na presença de todos". Isso significa que ela não deve ser alvo de uma resolução velada. Paulo dá uma razão para isso – "para que também os demais temam". A disciplina tem essa característica didática de proclamar e provocar o temor do Senhor, livrando membros do pecado para uma vida em santidade e conformidade com a pureza de Cristo.

d. O objetivo final da disciplina é o arrependimento do disciplinado.

Dois textos nos falam a esse respeito. O primeiro é 2 Ts 3.6-15:

"Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes; pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes. Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão."

Paulo enfatiza a necessidade do afastamento de "qualquer irmão que ande desordenadamente", contrário aos ensinamentos que recebeu (v. 6). O exemplo dado por Paulo é para aqueles que se acomodam no ócio, tornam-se um peso para os outros e passam a ocupar o tempo "intrometendo-se na vida alheia" (v.11). Esses, e aqueles que "não prestarem obediência" à palavra dada por Paulo, na sua carta, devem ser disciplinados (v. 14). Paulo indica que não deve haver "associação" com o faltoso e dá uma razão para tal: "para que fique envergonhado", ou seja, para que se conscientize de sua falha e, sob humilhação perante a disciplina exercida pela igreja, se arrependa. Esse texto é encerrado com as seguintes palavras de cautela (v. 15): "Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão".

O segundo texto é 2 Tm 2.22-26:

"Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade."

Nesse texto Paulo volta a reforçar que o cristão deve caracterizar-se por seguir "a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor" (v. 22). Nesse sentido as "questões insensatas e absurdas" devem ser não somente evitadas como repelidas, quando introduzidas no seio da igreja (v. 23), pois só geram contendas. Contenda não deve fazer parte da postura do servo de Deus. Este deve ser brando e capaz de ensinar com paciência (v. 24). A disciplina deve ser exercida em mansidão (v. 25), com o objetivo de que Deus conceda aos disciplinados "não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade" (v. 26).

Conclusão

Vivemos em uma era sem restrições e sem limites. Por isso, talvez, a questão da disciplina na igreja seja tão incompreendida e até negligenciada. Muitos questionam a legitimidade da sua aplicação – "com que direito?" Outros se revoltam quando a recebem. É preciso que saibamos que o direito e a autoridade da disciplina procedem do Senhor da igreja, que a comanda. É preciso que nossos olhos sejam abertos para que verifiquemos que a rejeição da disciplina é um grande mal. A recusa de sua aceitação ou a revolta por ela significam agir contra o objetivo maior, que é o reconhecimento do pecado, o arrependimento sincero e a restauração à plena comunhão da igreja visível.

Examinamos textos bíblicos que falam claramente sobre a necessidade de preservarmos nossa vida em sintonia com as diretrizes de Deus, em santificação e pureza, contribuindo para a edificação do corpo de Cristo. Esses mesmos textos especificam a necessidade da disciplina, que vai desde a autodisciplina, continuando com a admoestação individual e chegando até a exclusão, se necessário. O testemunho da igreja demanda fidelidade às diretrizes bíblicas, nesse sentido. Num mundo sem regras, Deus, em sua misericórdia, coloca a sua igreja como baluarte para que os seus padrões sejam reforçados e seguidos. Supliquemos a Deus que nos preserve em pureza, na plena comunhão de sua igreja e que compreendamos e defendamos o exercício da disciplina, quando necessária.

Nota do autor: Para leitura adicional, vide: "Disciplina na Igreja", por Valdeci da Silva Santos, revista Fides Reformata, Vol. III, No. 1, página 149.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

17 - Administrando o dia-a-dia

Como administrar o nosso dia-a-dia? Como conciliar nossos compromissos profissionais, com a família, a igreja, o lazer, e outras atividades? É isso que vamos abordar nossos próximos estudos.

* Começando o dia com uma boa noite de sono

Um bom dia sempre começa com uma boa noite de sono. Nosso relógio biológico está ajustado por Deus, para que gastemos a terça parte de nosso dia recobrando nossas energias através do sono.
Não dar ao corpo o tempo necessário para descansar é como contrair uma dívida. Mas cedo ou mais tarde, virá a cobrança.
Dormir não é apenas uma necessidade de descanso mental e físico: enquanto dormimos, ocorrem diversos processos metabólicos que, se forem alterados, afetarão o equilíbrio de todo o organismo a curto, médio e longo prazo. Estudos comprovam que quem dorme menos do que o necessário tem menor vigor físico, envelhece precocemente, está mais propenso a infecções, à obesidade, à hipertensão e ao diabetes .
A longo prazo, a privação do sono pode comprometer seriamente a saúde, uma vez que é durante o sono que são produzidos alguns hormônios que desempenham papéis vitais no funcionamento de nosso organismo.
Alguns dos riscos provocados pela falta de sono a curto prazo são: cansaço e sonolência durante o dia, irritabilidade, alterações repentinas de humor, perda da memória de fatos recentes, comprometimento da criatividade, redução da capacidade de planejar e executar, lentidão do raciocínio, desatenção e dificuldade de concentração. Quando se dorme menos que o necessário, a memória de curto prazo não é adequadamente processada e a pessoa não consegue transformar em conhecimento aquilo que foi aprendido. Ou seja, quem não dorme o tempo necessário, tem muita dificuldade para aprender coisas novas.
Alguns dos riscos provocados pela falta de sono a longo prazo são: falta de vigor físico, envelhecimento precoce, diminuição do tônus muscular, comprometimento do sistema imunológico, tendência a desenvolver obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e gastro-intestinais e perda crônica da memória.

* O tempo ideal de sono

Mas qual é a quantidade ideal de horas de sono? Embora essa necessidade seja uma característica individual, a média da população adulta necessita de 7 a 8 horas de sono diárias. Enquanto as crianças devem dormir um período de 9 a 11 horas, pois se não dormem o suficiente, ficam irritadiças, além de terem prejudicado o seu crescimento, o aprendizado e a concentração.
Diversos fatores podem nos privar do sono. Entre eles, a ansiedade. Quanto mais preocupados ficamos com o dia seguinte, maior a nossa dificuldade pra dormir.
Devemos aprender a lançar nossa ansiedade em Cristo, sabendo que “aos seus amados, ele dá enquanto dormem” (Sl.127:2b).
Este era o segredo de Davi. Mesmo com todas as suas ocupações diurnas, ele conseguia recostar suas cabeça no travesseiro e dormir tranqüilamente. Ele dizia: “Eu me deito e durmo; acordo, porque o Senhor me sustenta” (Sl.3:5). E também: “Em paz me deitarei e dormirei, pois só tu, ó Senhor, me fazes habitar em segurança” (Sl.4:8).
A certeza de que o Senhor é quem nos sustenta, pode nos proporcionar um sono tranqüilo e reparador.
Atividades físicas, braçais, também contribuem para uma noite bem dormida. Porém, preocupações, ansiedade e stress podem nos privar do sono. Por isso, o sábio Salomão declara: “Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito, mas a fartura do rico não o deixa dormir” (Ec.5:12).
Dormir bem depende de uma série de fatores além de apenas controlar a ansiedade e o estresse.

* Conselhos para Dormir Melhor

Exercitar-se de manhã ou de tarde pode contribuir para a sonolência na hora de dormir. Mas exercitar-se pouco antes de ir dormir pode ser prejudicial ao sono.
À noite, procure comer somente alimentos de fácil digestão e não exagerar nas quantidades.Evite tomar café, chás com cafeína (como chá-preto e chá-mate) e refrigerantes derivados da cola, guaraná, chocolate, pois todos são estimulantes ("despertam").
Evite dormir com a TV ligada, uma vez que isso impede que você chegue à fase de sono profundo. Filmes emocionantes podem também ter um efeito estimulante. Antes de recolher-se é melhor ouvir música suave.
Apague todas as luzes, inclusive a do abajur, do corredor e do banheiro
Feche bem as janelas para não ser acordado pela luz da manhã
Não leve livros estimulantes nem trabalho para a cama
Procure usar colchões confortáveis e silenciosos
Tire da cabeceira o telefone celular e relógios
Tome um banho quente para ajudar a relaxar, antes de ir dormir
Procure seguir uma rotina à hora de dormir, pois ajuda a induzir o sono
Os especialistas dizem que você pode treinar o cérebro a associar a cama com o sono, deitando-se apenas quando realmente pretende dormir. Pessoas que comem, estudam, trabalham, vêem TV ou jogam videogames na cama talvez achem mais difícil pegar no sono.
Tão importante quanto a rotina pré-sono é o ambiente em que dormimos. Temperatura agradável, quarto com o mínimo de iluminação e silencioso, colchão e travesseiro confortáveis são convidativos para uma boa noite de sono. De fato, com tanto conforto, pode até ser difícil sair da cama na manhã seguinte. Mas lembre-se: ficar na cama mais do que o necessário, mesmo nos fins de semana, pode alterar seu padrão de sono e dificultar o sono na noite seguinte.

* Cuidado com o exagero

Embora o sono tenha um importante papel em nossa vida, não podemos exagerar na dose. Dormir mais que o necessário é sinônimo de preguiça. Em Provérbios encontramos a seguinte advertência:

“Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para cruzar as mãos em repouso; assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado”. Provérbios 6:9-11

E em outras duas passagens, lemos:

“A preguiça faz cair em profundo sono, e o ocioso vem a padecer fome”. Provérbios 19:15

“Não ames o sono, para que não empobreças; abre os teus olhos, e te fartarás de pão”. Provérbios 20:13

Tudo deve ser na medida certa. Assim como não devemos amar o dinheiro, embora precisemos dele pra sobreviver, não podemos amar o sono, mesmo dependendo dele para viver.

16 - Mordomia do Tempo

Como administrar algo sobre o qual não temos qualquer controle?
Se você sabe, por exemplo, o quanto vai ganhar no final do mês, você pode fazer um planejamento de gastos, para não se individar, nem ter dificuldades para pagar suas contas. Mas quanto ao tempo, como administrá-lo? Se ao menos soubéssemos quanto tempo ainda nos resta!
É justamente por saber que o futuro é imprevisível, que devemos administrar da melhor maneira o tempo presente.
Do passado, a gente adquire experiência. Do futuro, a gente nutre expectativas. E do presente a gente busca tirar o melhor proveito, para que não tenhamos do que nos arrepender amanhã.

* O Passado

O passado deve ser considerado como um professor, cujas lições devem ser aprendidas e utilizadas no presente e no futuro. Porém, não há como reviver ou recuperar o tempo perdido.
Há algo no passado que deve ser esquecido, deixado para trás. Não devemos, por exemplo, permitir que nossos fracassos passados nos impeçam de tentar novamente. Nem viver reféns da saudade de sucessos passados.
Porém, aprende-se muito, tanto com os acertos, quanto com os erros. Suas lições devem ser constantemente relembradas e aplicadas para se evitar fracassos futuros.
O sábio Salomão nos adverte:

“Não digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois nunca com sabedoria isto perguntarias”.
Eclesiastes 7:10

O saudosismo nos prende a um passado impossível de se reviver. Já a culpa nos prende a um passado impossível de se consertar. Temos que adotar a mesma postura de Paulo ao dizer: “Mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo” (Fp.3:13b-14a).
Se quisermos avançar rumo a um futuro promissor, temos que ser alunos do passado, mas jamais seu refém.

* O Futuro

Nossa relação com o futuro deve ser de planejamento e expectativa. Porém, deve-se ter cuidado para que nosso planejamento não se torne em presunção, e nossa expectativa não se torne em ansiedade. Tiago nos deixa uma importante advertência:

“E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. Ora, não sabeis o que acontecerá amanhã. O que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”.
Tiago 4:13-15

Portanto, todos os nossos planos devem ser submetidos ao crivo do Senhor. Temos o direito de planejar e de nos preparar para o que virá. Mas não podemos ser presunçosos. “Ao homem pertecem os planos do coração, mas do Senhor procede a resposta da língua” (Pv.16:1). “O coração do homem propõe o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv.16:9).
É a vontade de Deus que deve sempre prevalecer em nossas vidas.
Antes de executarmos qualquer plano, por melhor que seja, devemos consultar ao Senhor, buscando descobrir o que Lhe é agradável (Ef.5:10).
Alguém já disse que “quem falha em planejar, está planejando falhar”.
Não se pode brincar com o futuro. Pois antes que a gente perceba, ele se torna presente...e, finalmente, passado. Por isso, é melhor planejar, do que sacrificar o que jamais poderemos reaver.
Se Deus fosse contrário ao planejamento, as Escrituras não diriam: “Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus planos serão estabelecidos” (Pv.16:3).
Assim como planejamento pode tornar-se presunção, se não o submetermos a Deus, nossas expectativas quanto ao futuro podem tornar-se ansiedade.
Todo ansioso deseja que as coisas ocorram antes do tempo deter-minado. A expectativa é gerada pela certeza de um futuro melhor. A ansiedade é filha das incertezas.
Jesus disse:

“Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? (...) Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã”.
Mateus 6:27,34a

A cura para a ansiedade é a fé. É pela fé que sabemos que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ecl.3:1). Portanto, não adianta tentar apressar as coisas. No tempo certo determinado por Deus, elas acontecerão.
Pedro declara em sua epístola:

“Humilhai-vos, portanto, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte. Lançai sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”. 1 Pedro 5:6-7

Assim como há um tempo para a humilhar-nos perante Deus, há o tempo de sermos exaltados por Ele.

* Vivendo o Hoje

O salmista afirma: “Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda” (Sl.139:16b). O Senhor conhece o futuro tão bem quanto o presente e o passado. Nossos dias já foram previamente ordenados.
Porém, isso não significa que devemos viver pródiga e irresponsavelmente. Lembremo-nos que “Deus pede conta do que passou” (Ec.3:15b).
Assim como fazemos com os recursos financeiros, devemos “contabilizar” o tempo. Deveríamos fazer a mesma oração do salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl.90:12). Neste texto “contar” significa “contabilizar” ou “administrar”. Portanto, temos que aprender a administrar nossos dias, a fim de que nos tornemos sábios.
O tempo não nos foi dado para ser gasto, mas para ser aproveitado. Tempo gasto é tempo disperdiçado com atividades infrutíferas ou danosas. Tempo aproveitado é aquele em que usamos cada oportunidade para fazer o bem.

“E não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”. Gálatas 6:9-10

É triste olhar para trás, e verificar o quanto tempo já disperdiçamos.
Quando jovens, achamos que temos todo o tempo do mundo, e por isso, não nos preocupamos e aproveitá-lo bem.
Observe o conselho que a Bíblia dá aos mais jovens:

“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento”.
Eclesiastes 12:1

Quando menos esperamos, a velhice chega, e nosso tempo neste mundo se abrevia.
Infelizmente, muitos parecem estar dormindo, e com isso, estão “matando” o tempo. Para esses, vale a recomendação de Paulo: “E fazei isto, conhecendo o tempo. Já é hora de despertarmos do sono” (Rm.13:11a).
Quem mata o tempo, pode estar ferindo a eternidade.
Em outras palavras, a maneira como gastamos nosso tempo, vai determinar o galardão que receberemos na eternidade.
Afinal, “todos devemos comparecer perante o tribunal de Crsito, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (2 Co.5:10).
“Portanto” recomenda o apóstolo, “vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo” (Ef.5:15-16a).

quarta-feira, dezembro 27, 2006

15 - Ofertas

O Dízimo é o piso e não o teto das contribuições; é o ponta-pé inicial, o ponto de partida. Entretanto, nossa justiça deve exceder à dos fariseus, que davam o dízimo das mínimas coisas, mas paravam por aí. Devemos ir além do dízimo. Devemos ser ofertantes generosos.
Se o Dízimo expressa nossa fidelidade, a oferta expressa nossa generosidade. E a promessa de Deus é que “a alma generosa, esta prosperará” (Pv.11:25).
Há vários tipos de ofertas que devem ser praticadas por aqueles que buscam o Reino de Deus e a sua justiça.

· Ofertas Voluntárias

Há a oferta voluntária, que damos de acordo com nossas possibilidades, mas sem qualquer planejamento. Simplesmente nos sentimos tocados, e expontaneamente abrimos o coração para dar. Davi orou, dizendo:

“Bem sei eu, meu Deus, que tu sondas os corações, e que te agradas da integridade. Eu também na integridade de meu coração voluntariamente dei todas estas coisas. E agora vi com alegria que o teu povo que se acha aqui, ofereceu voluntariamente. Senhor, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e estes pensamentos, e encaminha o seu coração para ti”.
1 Crônicas 29:17-18

A oferta voluntária tem como objetivo manifestar a integridade de nosso coração. Como disse Jesus, onde estiver nosso tesouro, ali estará nosso coração. Deve haver sempre em nós a disposição para dar espontaneamente, sem que haja a necessidade de qualquer pressão ou propósito especial, senão o de honrar a Deus.

· Votos

Há também aquelas ofertas revestidas de propósito, também chamadas de votos. Um voto é uma oferta especial em que o ofertante se compromete com Deus e a Sua obra.

“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo”. Salmos 116:12-14

Quando fazemos um voto, estamos demonstrando que nossa expectativa está inteiramente em Deus, e não em nossos próprios recursos. Nos convertemos dos recursos materiais a Deus. Colocamo-nos totalmente na dependência do Senhor Todo-poderoso.

“Se te converteres ao Todo-poderoso, serás restaurado: Se afastares a iniqüidade da tua tenda, e deitares o teu ouro no pó, o teu ouro de Ofir entre as pedras dos ribeiros, então o Todo-poderoso te será por ouro, e por prata escolhida. Certamente então te deleitarás no Todo-poderoso, e levantarás o teu rosto para Deus. Orarás a ele, e ele te ouvirá, e pagarás os teus votos. Determinando tu algum negócio, ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus caminhos”. Jó 22:23-28

Temos que “deitar nosso ouro no pó”, e “levantar nosso rosto para Deus”. Ele é o nosso ouro, nossa única riqueza. É d’Ele que virá todos os recursos de que necessitamos para levar avante nossos projetos.
Diferente da oferta voluntária que é dada espontaneamente, quem faz um voto, deve pagá-lo, pois assumiu um compromisso com Deus.

“Fazei votos, e pagai-os ao Senhor, vosso Deus; tragam presentes, os que estão ao redor dele, àquele que é tremendo”. Salmos 76:11

Ficamos sob os votos que fazemos. O Rei Davi declarou: “Estou sob os votos que fiz, ó Deus; eu te oferecerei ações de graça” (Sl.56:12).
Por isso, o voto deve ser feito de maneira consciente. Salomão, sabiamente, nos aconselha: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo. Ele não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues” (Ec.5:4-5). E mais: “Laço é para o homem o dizer precipitadamente: É santo, e só refletir depois de fazer o voto” (Pv.20:25).
Às vezes, na hora da angústia, as pessoas fazem votos, e depois se esquecem de cumprí-los. Mesmo Davi, homem segundo o coração de Deus, não estava desobrigado a cumprir seus votos: “Te pagarei os meus votos; votos que haviam pronunciado os meus lábios, e dito a minha boca, quando eu estava na angústia” (Sl.66:13b-14).

· Ofertas Alçadas

A mesma passagem que fala do dízimo, também fala da oferta alçada, conferindo-lhe o mesmo peso. Só para relembrar: “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais, vós, a nação toda” (Ml. 3:8-9).
E o que é “oferta alçada”? É uma oferta cujo valor é maior do que o dízimo. É, por assim dizer, a melhor parte daquilo que recebemos: “De todas as vossas dádivas oferecereis toda a oferta alçada do Senhor; de tudo o melhor deles, a sua santa parte” (Nm. 18:29).
Dízimo e oferta alçada são os dois elementos que compõem nossas primícias. Ezequiel profetizou acerca do Novo Israel, que é a Igreja de Cristo:

“Pois no meu santo monte, no monte alto de Israel, diz o Senhor Deus, ali me servirá toda a casa de Israel, toda ela naquela terra. Ali me deleitarei neles, e ali demandarei as vossas ofertas alçadas, e as primícias das vossas dádivas, com todas as vossas coisas santas. Com cheiro suave me deleitarei em vós, quando eu vos tirar dentre os povos e vos congregar das terras em que andais espalhados, e serei santificado em vós ante os olhos das nações.” Ezequiel 20:40-41

Enquanto o Dízimo deve ser entregue periodicamente, isso é, com a mesma freqüência com que recebemos, a oferta alçada pode ser entregue esporadicamente. Há pessoas que entregam a oferta alçada, toda vez que entregam o dízimo. Mas há outras que a entregam algumas vezes durante o ano. Nossa sugestão é que a oferta alçada seja dada pelo menos uma vez no ano. Se possível, no primeiro mês, para que seja caracterizada como primícias, isto é, como os primeiros frutos do ano.
E aonde devem ser levados nossos dízimos e nossas ofertas ao Senhor?

“Buscareis o lugar que o Senhor vosso Deus escolher entre todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e a sua habitação. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas (...) Dentro das tuas portas não poderás comer o dízimo do teu grão, nem do teu mosto, nem do teu azeite, nem os primogênitos das tuas vacas, nem das tuas ovelhas; nem nenhum dos teus votos, que houveres prometido, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão.” Deuteronômio 12:6,17

Na Nova Aliança, o lugar escolhido por Deus para fazer habitar o Seu nome para sempre é a Sua Igreja. É a ela que devemos trazer nossos dízimos e ofertas. Não devemos tocar no que é de Deus, mas sermos fiéis Àquele que nos confiou o Seu Nome e a Sua Palavra.

14 - As Primícias do Senhor

Já vimos que todas as coisas pertencem a Deus, e que somos apenas mordomos, isto é, administradores das obras de Suas mãos. Ele não apenas nos confia o cuidado de tais coisas, mas também nos dá o direito de desfrutá-las.
Para que demonstrássemos nosso reconhecimento de que tudo pertence a Ele, Deus instituiu o princípio das primícias.
O termo “primícias” significa “primeiros frutos”, e era empregado originalmente para designar os frutos iniciais de uma colheita.
Veja o que diz o mandamento:

“Quando tiveres entrado na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, e a possuíres, e nela habitares, tomarás das PRIMÍCIAS de todos os frutos do solo, que colheres da terra que o Senhor teu Deus te dá, e as porás num cesto, e irás ao lugar que o Senhor teu DEUS escolher para ali fazer habitar o seu nome. Apresentar-te-ás ao sacerdote em exercício, e lhe dirás: Hoje declaro perante o Senhor teu Deus que entrei na terra que o Senhor prometeu a nossos pais que nos daria. O sacerdote receberá o cesto da tua mão, e o porá diante do altar do Senhor teu Deus.” Deuteronômio 26:1-4

Antes de desfrutar de sua colheita, o trabalhador deveria dedicar os primeiros frutos a Deus. Esta era a forma de reconhecer que Ele, e não apenas os esforços pessoais, foi quem garantiu o sucesso da colheita.
Esse princípio é claramente esboçado em Deuteronômio 8:17-18:

“Não digas no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me proporcionaram esta riqueza. Antes te lembrarás de que o Senhor teu Deus é que te dá força para adquirires riquezas, confirmando a aliança que jurou a teus pais, como hoje se vê.”

É a este mesmo princípio que Jesus Se refere, ao declarar: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo.15:5b).
Jamais podemos nos estribar em nossos esforços pessoais, achando que foram eles que nos proporcionaram qualquer bem. Se Ele não abrir uma porta, onde encontraremos oportunidade de trabalho? Se Ele não nos fizer cair na graça de nosso empregador, como alcançaremos a tão desejada promoção? Se Ele não nos der aptidões profissionais, como prosperaremos em nosso ramo de atividade? Portanto, Ele é que nos dá força para adquirirmos riquezas. Por isso, devemos colocá-Lo sempre em primeiro lugar. Foi isso que Jesus afirmou, ao declarar: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mt.6:33).
Este é o princípio por trás do mandamento das primícias.
Talvez alguém argumente, dizendo que tal mandamento só faria sentido em uma sociedade agrícola, onde as pessoas vivessem da colheita. Entretanto, tal ordenança se aplica em qualquer sociedade. De tudo aquilo que Deus faz chegar às nossas mãos, devemos separar as primícias, e entregá-las na Casa de Deus. E há uma maravilhosa promessa para aqueles que dedicam suas primícias ao Senhor:

“Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; então se encherão os teus celeiros abundantemente e transbordarão de vinho os teus lagares.” Provérbios 3:9-10

* O que é o Dízimo?

É a décima parte daquilo que recebemos, e compõe parte das primícias que devemos dedicar a Deus.
As Escrituras são claras quanto ao nosso dever de entregar os dízimos na Casa de Deus.

“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança”. Malaquias 3:10

O Dízimo não apenas expressa nosso reconhecimento da Soberania de Deus em nossas vidas, mas também provê sustento para Sua Casa.
De acordo com a Palavra de Deus, sonegar os dízimos é o mesmo que roubar de Deus, ou privá-lO de algo que Lhe é de direito:

“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais, vós, a nação toda”. Malaquias 3:8-9

Assim como pagamos nossos impostos ao Estado, como cidadãos do Reino de Deus, devemos entregar fielmente nossos dízimos. Foi Jesus quem ordenou: “Dai a César, o que é de César, e a Deus, o que é de Deus” (Mt.22:21).
O dízimo não é pagamento, nem doação. O dízimo é uma devolução. Na verdade, a Deus pertence 100% do que temos. Mas Ele nos dá o direito de usufruir de 90%, devolvendo-Lhe apenas 10%.
Toda vez que entregamos o dízimo, devemos ter o mesmo espírito que houve em Davi, ao oferecer a Deus o que o povo de Israel entregava para a construção do Templo em Jerusalém:

“Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade, pois teu é tudo o que há nos céus e na terra. Teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos como chefe. Riquezas e glória vêm de ti; tu dominas sobre tudo. Nas tuas mãos há força e poder para engrandecer e dar força a tudo (...) Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Tudo vem de ti, e somente devolvemos o que veio das tuas mãos”. I Crônicas 29:11-12,14

Lembre-se que todas as coisas são d’Ele, por Ele e para Ele. Ele tem depositado grande confiança em nós, ao permitir que administremos Sua obra. Não podemos trair Sua confiança.
Paulo diz que “requer-se dos despenseiros (mordomos) que cada um se ache fiel” (1 Co.4:2).
E a promessa de Jesus é que os forem fiéis no pouco, sobre o muito serão colocados.
Devemos entragar o dízimo de tudo, como fez Abraão (Gn.14:20b). Tanto das pequenas coisas, como das grandes.
Jesus disse que os fariseus de Seu tempo, davam o dízimo até dos temperos usados na comida, como hortelã, endro e cominho. Mas infelizmente, eles eram fiéis nos dízimos, mas negligenciavam outras coisas importantes, como a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus os advertiu, dizendo: “Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas”(Mt.23:23). De fato, na questãos dos dízimos, eles eram extremamente zelosos. E Jesus nos adverte: “Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt.5:20). Portanto, não podemos ser menos zelosos do que eles.
O Dízimo foi instituído por Deus antes da Lei, e deve ser observado ainda hoje, pelos que vivem sob a Nova Aliança. Na Antiga Aliança, sob a Lei, os dízimos eram recebidos por sacerdotes mortais, mas agora, sob a Aliança da Graça, “os recebe aquele de quem se testifica que vive” (Hb.7:8), isto é, Jesus Cristo, nosso Sumo-Sacerdote.

13 - O Dono do Mundo

As relações comerciais existem desde que os seres humanos começaram a partilhar seus pertences. Tais relações se davam, inicialmente, à base de trocas. Se alguém dispunha de grãos, enquanto seu vizinho dispunha de carne, trocava-se alguns punhados de grão, por um pedaço de carne.
Mais tarde, surgiria a moeda, que aos poucos, passaria a ser largamente usada na aquisição de bens.
No início, as pessoas trabalhavam para si mesmas. Caçavam, pescavam, cultivavam a terra, e produziam suas próprias vestimentas. Mas com o tempo, as pessoas se ofereceriam para trabalhar para outras, por comida, por estadia, e mais tarde, por dinheiro. Surgia, então, a remuneração.
Encontramos nas Escrituras casos como o de Esaú, que trocou sua primogenitura por um prato de lentilhas.
Depois encontramos Jacó, que trabalhou de graça por 14 anos para seu tio Labão em troca de Raquel, com quem desejava se casar.
Tais relações comerciais são permitidas por Deus, tendo em vista o fato de que ninguém é auto-suficiente. Todos precisamos uns dos outros. O que um produz, alimenta a outros. O trabalho de um, beneficia a outros, e assim por diante.
Porém, acima de tudo, dependemos de Deus.
Afinal, não podemos nos esquecer que a Terra, e tudo quanto ela produz, pertence a Deus, embora tenha sido confiada aos cuidados do homem.
Leia atentamente o que diz a Bíblia acerca disso:

“Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam”.
Salmos 24:1

Não há um único centímetro quadrado deste mundo de que o Senhor não diga: É meu!
Não só as coisas, como também as pessoas deste mundo pertencem a Ele. Até mesmo os animais:

“Pois meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de colinas. Conheço todas as aves dos montes, e é meu tudo o que se move no campo”.
Salmos 50:10-11

Nem o reino mineral escapa desta verdade:

“Minha é a prata, e meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos”.
Ageu 2:8

Diante de tais afirmações, concluímos que nada que tenhamos é realmente nosso. Todas as coisas pertencem a Deus. Não somos donos de coisa alguma, nem mesmo dos nossos filhos.

“Pois todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha”.
Ezequiel 18:4a

Somos apenas mordomos, administradores daquilo que pertence ao Criador. Podemos até desfrutar das coisas deste mundo, mas jamais estabelecer uma relação de posse com elas. Por isso Paulo diz que “os que compram” deveriam se portar “como se nada possuíssem”, e “os que usam deste mundo, como se dele não abusassem” (1 Co.7:30b-31a).
Aquilo que dizemos possuir, nada verdade, nos possui, pois toda relação de posse é recíproca.
O único bem permanente que possuímos é o nosso Deus. Por isso o salmista dizia: “Não tenho outro bem além de Ti” (Sl.16:2b).
Entre nós e Deus há uma relação de posse recíproca. Podemos declarar como Sulamita: “O meu amado é meu, e eu sou dele” (Cant.2:16a). E o próprio Deus é quem afirma: “Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Co.6:16b).
Quando estabelecemos uma relação de posse com alguma coisa, fazemos daquilo nosso tesouro. E de acordo com Jesus, “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt.6:21).
É aí que mora o problema!
Não há nada de errado em ser próspero. Entretanto, corremos sérios riscos quando nos deixamos seduzir pelas riquezas deste mundo.
Foi reconhecendo isso que o sábio Salomão orou:

“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que me é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus”.
Provérbios 30:8-9

Devemos desejar ser prósperos, não ricos. E se, eventualmente, nos tornarmos ricos, devemos atentar para o conselho de Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundandemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” ( 1 Tm.6:17).
Repare bem: Deus nos dá abundantemente todas as coisas. E pra quê? Para delas gozarmos, desfrutarmos. Mas não pra que as possuamos. Desfrutar é uma coisa, possuir é outra totalmente diferente.
O salmista nos exorta: “Ainda que vossas riquezas aumentem, não ponhais nelas o coração” (Sl.62:10b).
Afinal, “nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele” (1 Tm.6:7). “Como saiu do ventre da sua mãe, assim nu voltará, indo-se com veio. Nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão” (Ec.5:15). Tudo neste mundo é passageiro, efêmero. Não vale a pena colocar o coração em tesouros que acabam corroídos pela ferrugem, ou comidas pelas traças.
E o pior de tudo isso é que “os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm.6:9-10).
A diferença entre ser próspero e ser rico está no foco. Segundo os princípios do Reino de Deus, o próspero é aquele que se torna canal de bênçãos para outros. É aquele que entende que “o proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. O que ama o dinheiro nunca se fartará dele; quem ama a abundância nunca se farta da renda. Isto também é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem” (Ec. 5:9-11).
O apóstolo João, escrevendo a Gaio, declarou: “Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” (3 Jo.2).
O salmista declara que o Senhor se deleita na prosperidade do seu servo (Sl.35:27). Portanto, não há errado em querer ser próspero.
Já o “rico” é aquele que faz da riqueza um fim em si mesma, colocando nela a sua esperança. A estes, o Espírito Santo adverte: “Fitarás os olhos naquilo que não é nada? Porque certamente isso fará para si asas, e voará ao céu como a águia” (Pv.23:5).
A riqueza é circunstancial, já a prosperidade é um estado de espírito. Pode-se ser próspero, sem jamais ser rico aos olhos do mundo. O rico só pensa em si mesmo, e em como acumular cada vez mais riquezas ao seu tesouro particular. Já o próspero está mais preocupado em utilizar sua prosperidade para fazer o bem. Mesmo desfrutando dela, sua prioridade é torná-la uma bênção para outros. As Escrituras afirmam: “Sei que não há coisa melhor para eles do que se alegrarem e fazerem o bem na sua vida, e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus” (Ec.3:12-13).
No conselho que Paulo dá aos “ricos deste mundo”, ele acrescenta: “Que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm.6:18).
O Criador nos deu o direito de comer do bem desta Terra (Is.1:19). E também nos ordenou que vivéssemos do suor do nosso rosto (Gn.3:19). O trabalho, portanto, é o meio estabelecido por Deus, para que prosperemos, e assim, possamos ser bênção para nossa família, e para nossos semelhantes. Paulo diz que todo filho de Deus deve trabalhar, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (Ef. 4:28b).
Trabalhar, desfrutar, repartir. Este é o tripé sobre o qual repousa a prosperidade do justo.
Já os que querem ficar ricos, edificam suas vidas sobre outro tripé: trabalhar, acumular, desfrutar.
Seria bom que eles lessem a parábola de Lázaro, e desde já, colocassem suas barbas de molho.

12 - Mordomia Cristã

O mordomo é alguém que recebeu a responsabilidade de cuidar daquilo que pertence ao seu senhor. Embora não seja o dono, cabe ao mordomo zelar pelos bens que lhe foram confiados, como se fora seus.
Todas as coisas pertencem a Deus, e foram criadas “por Ele e para Ele”. Portanto, Ele é a razão da existência de tudo quanto há no universo, seja de ordem espiritual ou material.
Coube ao homem a incumbência de cuidar das obras das mãos de Deus. O salmista Davi escreve:

“Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés.” Salmos 8:6.

Ao criar o homem, Deus outorgou-lhe autoridade sobre toda a criação. A ordem de Deus era: “enchei a terra, e sujeitai-a. Dominai...” (Gn. 1:28).
Esta autoridade veio acompanhada por uma grande responsabilidade. Recebendo o mandado de dominar, o homem também recebia a incumbência de “lavrar e guardar” a terra (Gn.2:15), sem jamais perder de vista que “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl.24:1). O próprio Deus é quem declara: “Meu é o mundo e tudo o que nele há” (Sl.50:12b). Portanto, o homem não é dono de coisa alguma. Somos mordomos de Deus, sobre os quais repousa a responsabilidade de cuidar da criação.
Podemos compreender melhor esta verdade através de uma das mais famosas parábolas de Jesus. Trata-se da parábola dos talentos, onde o reino dos céus é apresentado como “um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade. Então partiu(...) Muito tempo depois veio o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles” (Mt.25:14-15, 19). Tudo aquilo de que dispomos nesta vida pertence a Deus, embora esteja sob os nossos cuidados. Nossos filhos, nosso cônjuge, nossos bens, nosso corpo; tudo é de Deus!
São verdadeiros talentos que Deus nos confiou. Um dia, porém, Ele nos pedirá conta daquilo que fizemos com todos esses talentos. A forma como os talentos são distribuídos não compete a nós julgarmos. Deus tem os Seus próprios critérios. A uns Ele dá cinco talentos, a outros dois, e a alguns apenas um. O importante é a forma como vamos administrá-los. Tanto podemos multiplicá-los, como podemos até perdê-los. De acordo com o texto sagrado, aquele senhor distribuiu os talentos de acordo com a capacidade que cada um tinha de administrá-los. O que recebera cinco, fê-los multiplicar por dois, e alcançou mais cinco. O que ganhara dois, também os multiplicou. Porém, o que tinha apenas um, acabou perdendo-o.
O mesmo Deus que nos deu talentos, deu-nos também capacidade para geri-los e multiplicá-los. Entretanto, se formos negligentes com o que Deus nos confiou, poremos tudo a perder!
Na parábola dos talentos, os servos que receberam cinco e dois talentos foram chamados de servos bons e fiéis por terem cuidado bem daquilo que pertencia ao seu senhor. Como recompensa, os que foram fiéis no pouco foram colocados no muito. Quanto ao que recebera um talento, e o enterrara, fora chamado de servo inútil, e rejeitado pelo seu senhor.
Se quisermos que Deus deposite em nossas mãos uma confiança maior, precisamos cuidar bem daquilo que Ele já nos tem confiado. Isto é mordomia!
Se não formos fiéis no pouco, jamais Deus nos colocará no muito. Se não conseguirmos administrar algo pequeno, como poderemos administrar algo maior?
Um exemplo clássico disso é a pessoa que deseja fazer a obra de Deus, sem conseguir governar a sua própria casa. Paulo afirma que o pastor deve governar bem a sua própria casa, tendo seus filhos sob disciplina, com todo o respeito “pois se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1 Tm.3:5).
Não podemos nos esquecer que, quanto maior a confiança que Deus depositar em nós, maior a nossa responsabilidade diante dos Seus olhos. Jesus disse:

“A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá.” Lucas 12:48b.

Jamais nos esqueçamos de que haverá um dia em que todos terão que prestar contas perante o Tribunal de Cristo (2 Co.5:10). “De modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm.14:12).

11 - A Comunhão entre os Discípulos

Nossa vida espiritual é profundamente afetada pelo tipo de sentimento que nutrimos acerca das pessoas com quem nos relacionamos. A vida emocional do ser humano é sobremodo complexa, e por isso mesmo, deve ser tratada com cuidados redobrados.
Se não tivermos uma vida emocional bem alicerçada na Palavra, nossos relacionamentos serão afetados, impossibilitando-nos de cultivar amizades dura-douras e uma vida espiritual plena.
Há uma palavra chave na Bíblia para compreendermos melhor tudo isso. Trata-se do termo COMUNHÃO ( Koinonia ).
O que é comunhão, afinal? É aquilo que une duas ou mais pessoas diferentes. Ter comunhão é o mesmo que ter algo em comum. Apesar das diferenças que temos, somos chamados à comunhão. E o que temos em comum? A fé em Cristo Jesus. E Paulo vai ainda mais longe, abrindo-nos o leque daquilo que é o fundamento da nossa comunhão. Ele diz que devemos procurar “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. E isto, porque “há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos” (Ef.4:3-6).
Não importa a criação que tenhamos recebido de nossos progenitores, ou o nível cultural que temos ou ainda a classe social a que pertencemos. O que nos une é infinitamente mais forte do que o que nos difere. Isso é comunhão.

· COMUNHÃO VERTICAL E HORIZONTAL

Existem dois tipos de comunhão apresentadas na Bíblia: a Comunhão Vertical e a Comunhão Horizontal, simbolizadas na Cruz de Cristo. A primeira é aquela que devemos ter com Deus, através de Seu Filho Jesus. A segunda é a que devemos ter com os nossos irmãos na fé. Na verdade, uma depende da outra.
Paulo afirma que Deus nos chamou “para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co.1:9). Isso é comunhão vertical. No versículo seguinte ele diz: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, para que sejais unidos no mesmo sentido e no mesmo parecer” (v.10). Veja que para Paulo, nossa comunhão com Deus estaria estreitamente ligada à nossa comunhão com os outros. Para ele, nossa comunhão com os irmãos não era apenas uma questão de fé. Por terem a mesma fé, deveriam também ter a mesma disposição mental, o mesmo parecer, caminhando na mesma direção.
João também faz um paralelo importante entre a comunhão com Deus, e a comunhão com os irmãos. Ele escreve:

“O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo (...) Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, TEMOS COMUNHÃO UNS COM OS OUTROS, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” 1 JOÃO 1:3, 6-7.

Para que a nossa comunhão seja autêntica, devemos nos dispor a partilhar o que temos recebido de Deus. Tudo o que Deus nos dá, é visando o bem comum de toda a família da fé. Se falharmos em comunicar (compartilhar) aquilo que Deus nos confiou, estaremos dando as costas ao Corpo de Cristo, e negando-lhe o suprimento necessário.
Imagine se os olhos se negassem a enxergar, o que seria de todo o corpo? E se a boca se negasse a abrir para ingerir o alimento, o que seria do resto do organismo? Assim como há uma interde-pendência entre os mais diversos membros e órgãos do corpo humano, há também uma interde-pendência entre os membros do Corpo de Cristo. Ninguém poderá receber a energia que provém de Cristo para viver, se não estiver devidamente ligado ao Seu Corpo, que é a Igreja. Qualquer um que se afaste da Igreja, está fora da comunhão, e por isso, a vida de Cristo já não pode fluir através dele. É como um membro amputado, cujo fim é apodrecer-se.
Há uma iteração entre os membros do corpo. Cada um con-tribui para o bem estar do resto do corpo, desempenhando o seu papel. Cada um dá, e ao mesmo tempo, recebe. Isso é comunhão! Numa bela exposição deste assunto, Paulo diz que Deus nos colocou no Corpo de Cristo, e que cada membro deve ser honrado, “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Co.12:25-26). Desta maneira, servimos e honramos uns aos outros em amor.
Quando vivemos esta comu-nhão, o sangue de Jesus flui em nós, purificando-nos de todo o pecado. Somos participantes de Sua natureza, de Sua vida, de Sua energia vital. Mas se nos separamos do Corpo, perdemos tudo isso, e aos poucos, morremos.
A Igreja primitiva entendia isso perfeitamente, e buscava viver essa unidade. Era, realmente, uma comunidade cristã. Em Atos encontramos um testemunho disso. Ali lemos que “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”(At.2:44).
E mais:

“Era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” ATOS 4:32.

Não era à toa que Paula chamava a Igreja de FAMÍLIA DA FÉ. Não era algo forçado, mas produzido pelo Espírito Santo no coração daqueles que tinham comunhão com Cristo Jesus.
Hoje em dia, as pessoas estão totalmente voltadas para si mesmas, e não conseguem compreender o que seja a comunhão entre irmãos. Até mesmo dentro das famílias não há mais união. Isto tudo é produzido pelo espírito do mundo, que leva as pessoas a viverem só para si mesmas, sem se importarem com ninguém mais. E este tipo de postura tem produzido uma sociedade cínica, sem es-crúpulos, e sobretudo, sem amor.
Não devemos pensar que este egoísmo que predomina no mundo seja algo recente. Ele é inerente ao próprio ser humano. O homem é egoísta por natureza. Já no tempo de Paulo havia este tipo de postura, como podemos notar na seguinte denúncia feita pelo apóstolo:

“A ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuido do vosso bem-estar. Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.” FILIPENSES 2:20-21.

O espírito do mundo ainda é o mesmo. Ninguém está preocupado com o bem-estar de quem quer que seja. A menos que seja por interesse próprio. Como diz o adágio popular, é cada um por si, e Deus por todos.
Porém Deus não pode ser por uma sociedade onde cada um é por si. A bênção do Senhor só se manifesta plenamente onde há união e comunhão (ver Salmo 133).
Escrevendo ainda aos Filipenses, o apóstolo diz:

“Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma COMUNHÃO NO ESPÍRITO, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai a minha alegria, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa.”
FILIPENSES 2: 1-2.

O que há em Cristo é pra ser compartilhado entre os irmãos. Se há conforto em Cristo, ele deve ser usufruído por toda a família da fé. Se há consolação de amor, ela deve ser partilhada entre nós. E isso só é possível quando temos o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, o mesmo ânimo, a mesma fé, o mesmo Espírito.
Quando vivemos esta comunhão, já não fazemos nada motivados por contenda, como quem deseja provar alguma coisa a outrem. Por isso Paulo complementa: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo” (v.3). Nossas motivações são outras, entre as quais, o bem comum. E mais: “Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (v.4). Aqui, Paulo diferiu um golpe no egoísmo predominante no mundo.
Diante de tudo o que lemos até aqui, deveríamos fazer uma avaliação sincera de nossa postura para com a Igreja de Cristo. Será que temos vivemos este tipo de comunhão? Ou será que estamos na Igreja por motivos egoístas.
Sabe por quê muita gente vem a Igreja, recebe uma bênção, e vai embora? Porque não integrou-se à comunhão dos santos. Estava na Igreja apenas visando o seu próprio bem-estar.
Quando uma pessoa não busca comungar com os irmãos, ela se torna uma pessoa vazia, oca, e fraca.
Nossa força espiritual depende muito da comunhão que desen-volvemos com Cristo, através da comunhão que temos com o Seu Corpo.
Por isso, o escritor sagrado insiste em que não deixemos de “congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb.10:25).
O que deve nos motivar a vir à Igreja não é a busca por solução de problemas, e sim a comunhão com os nossos irmãos. Desta maneira, compreendemos que Deus nos chama a dar, a oferecer, e não apenas a receber. Devemos vir à Igreja com o intuito de oferecer o que temos recebido de Deus. Se assim o fizermos, Deus sempre terá prazer em nos dar mais e mais.

10 - O Andar do Discípulo

Aquele que está em Cristo deve viver em amor, manifestando o fruto resultante de sua comunhão com o Espírito Santo. Entretanto, ainda estamos habitando em um corpo carnal, e por isso, estamos “sujeitos às mesmas paixões”. Em nosso espírito reside o mais puro amor derramado pelo Espírito que nos foi dado, mas em nossa carne habita outros tipos de sentimentos e impulsos com os quais precisamos aprender a lidar.
É de Paulo a declaração: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm.7:18a). Se há algum bem em nós, este bem está em nosso espírito, e não em nossa carne.
De acordo com a Escritura, “o que se une ao Senhor é um só espírito com Ele” (1 Co.6:17). Portanto, nosso espírito está perfeito, completo, não havendo nada para ser feito nele. Pelo simples fato de estarmos em Cristo, estamos completos! “Recebestes a plenitude em Cristo”, afirma Paulo em outra passagem (Col. 2:10). Porém, tudo isso é realidade na esfera do espírito.
Nosso espírito tornou-se receptáculo do amor de Deus, derramado profusamente em nossos corações (Rm.5:5).
A obra que Deus tinha para fazer em nosso espírito, foi feita na Cruz, quando “com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sempre santificados” (Hb. 10:14). Ao nos unirmos a Ele no momento em que nos convertemos, aquela obra passa a ser real em nossa vida. Portanto, nada há que possamos fazer para melhorar o que já está completo.
A despeito disto, temos que aprender a lidar com os impulsos latentes em nossa carne. Entre a carne e o Espírito há um árbitro: nossa própria alma. Se nossa alma (psiquê) aliar-se à carne, fatalmente seremos levados a atender aos seus apelos pecaminosos. Porém, se nossa alma aliar-se ao Espírito, nossa carne se renderá.
O que significa “andar em Espírito”, e “andar na carne”? Quando a Bíblia fala “no Espírito”, está falando da Natureza Divina que nos é infundida pelo Espírito Santo de Deus. Andar no Espírito eqüivale a atender aos impulsos gerados por esta Natureza Divina.
Pedro afirma que somos “participantes da Natureza Divina” (2 Pe.1:4). É a própria vida de Deus que está pulsando dentro de nós. Se atendemos aos seus impulsos, andamos de acordo com Deus, reproduzindo a vida de Jesus.
Não podemos confundir os termos. “Estar no Espírito” é uma coisa, “andar no Espírito” é outra coisa. Pode-se estar no Espírito, sem necessariamente andar n’Ele.
Nós estamos no Espírito desde o dia em que nos convertemos a Cristo. A partir daí, fomos tirados de Adão, e enxertados em Cristo. Portanto, estar em Cristo é o mesmo que estar no Espírito.
“andar no Espírito” são outros quinhentos. Estamos no Espírito porque recebemos a Cristo pela fé. Andamos no Espírito porque fizemos desta fé a prática da nossa vida. Vivemos em conformidade com esta fé. Paulo argumenta: “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl.5:25). Estar no Espírito é uma questão de fé, enquanto que, andar no Espírito é uma questão de prática.
João nos oferece um argumento bem semelhante ao de Paulo: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 Jo. 2:60). Há muitos que, embora estejam em Cristo, insistem em andar na carne. Isso é um contra-senso. Temos que andar de forma digna da vocação com que fomos chamados (Ef.4:1). A vida de Deus que flui através de nós precisa ser manifestada em nossa conduta. Paulo dava muito valor a isto. Segundo ele, o “mais importante”, é que devemos nos portar “dignamente conforme o evangelho de Cristo” (Fp.1:27).
Se a minha fé não afetar o meu andar cotidiano, eu estarei vivendo uma espiritualidade falsa, e não o verdadeiro cristianismo.
Uma vez que Cristo vive em nós, já não nos é impossível reproduzir Sua vida em nossa caminhada diária. Por isso, Paulo nos instruiu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor...” ( Ef.5:1-2a). Ora, andar em amor é o mesmo que andar em Espírito:

“Ninguém jamais viu a Deus; mas se amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é aperfeiçoado o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito (...) E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. DEUS É AMOR. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele."
1 João 4:12-13, 16.

Nossa comunhão com Deus deve ditar a nossa conduta neste mundo. Se de fato vivemos n’Ele, recebendo d’Ele Sua Natureza, devemos agir como Ele, amando, perdoando, e interagindo com o nosso semelhante da maneira como Cristo faria.
Somente os que estão em Adão vivem na carne. Porém, quanto a andar na carne, mesmo cristãos sinceros podem fazê-lo, caso não busquem no Espírito o poder para vencê-la.
Por isso Paulo não se cansava de exortar aos seus leitores a que não dessem lugar a carne: “Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz. A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”(Rm.8:5-9).
Quem ainda não foi removido de Adão não tem a menor chance de vencer as inclinações da carne. Pode até receber uma educação refinada, porém, quando menos se espera, a natureza adâmica se manifesta. Ademais, a carne jamais se converte. Daí a importância de andarmos constantemente no Espírito. “Andai no Espírito” insiste o apóstolo, “e não satisfareis à concupiscência da carne” (Gl.5:16).
E quem decide se vamos andar no Espírito ou na carne? A nossa alma. Se a nossa mente estiver renovada pela Palavra de Deus, ela sempre se aliará ao Espírito, e com isso, a carne com seus impulsos será sempre vencida.
Paulo diz que “a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito o que é contrário à carne. Estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl.5:17). Veja que neste texto há três elementos: o Espírito, a Carne, e o nosso “eu”, referindo-se aí à nossa alma, que é o centro de nossa vontade. Temos que dar ouvidos ao Espírito, e aliar-nos a Ele no combate à nossa natureza pecaminosa. É pelo Espírito que mortificamos as obras do corpo (Rm.8:13).
Enquanto a nossa mente (alma) não for renovada pela Palavra, a nossa carne predominará. Não podemos nos esquecer de que o Espírito trabalha em conjunto com a Palavra. Por mais que o Espírito nos tenha sido derramado, Sua obra em nossa vida vai ficar restrita ao conhecimento que tivermos da Sua Palavra. À medida que a alma vai absorvendo as verdades da Palavra, o Espírito vai transformando-nos à imagem de Deus, e sujeitando a nossa carne à servidão. “Portanto”, escreve Paulo, “rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”(Rm.12:1-2a).
Uma coisa está estreitamente ligada à outra. Não podemos apresentar os nossos corpos ao serviço do Senhor, sem antes termos a nossa mente renovada. Caso isso não aconteça, estaremos nos conformando a este mundo, isto é, adotando os seus padrões de comportamento, e não nos adequando à imagem de Jesus.

9 - As Marcas do Genuíno Amor - Continuação

8. O Amor Não Se Irrita - Quem ama não perde a compostura quando vê os seus direitos ameaçados. Ninguém há que possa provocar àquele que vive em amor. Esse não revida, não se irrita, antes, segue as pisadas de Cristo, que “quando foi injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava. Antes, entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe.2:23). Aquele que anda em amor, procura manter a calma, mesmo nos momentos de provocação, de escárnio, de zombaria.

9. O Amor Não Suspeita Mal - Há muita gente que enxerga o mal onde ele não existe. Tais pessoas se vangloriam de ter um faro aguçado para perceber quando alguém está intentando fazer-lhes mal. Vivem em busca de indicações, indícios, pistas para desmascarar quem lhe esteja tramando uma emboscada. Porém, aquele que é dotado de amor verdadeiro está sempre atento ao lado bom das pessoas, procurando realçá-lo, em vez de enxergar somente o seu lado ruim. Embora estejamos cientes de que ninguém é perfeito, devemos procurar enxergar os traços que cada pessoa conserva da imagem e semelhança de Deus. Ainda que o pecado tenha maculado a imagem de Deus nos homens, eles possuem algum traço divino que a graça divina manteve intacto. É esse traço divino que deve ser realçado quando nos relacionamos com as pessoas. Ele é como uma assi-natura deixada por Deus em uma obra Sua. Se enfatizarmos os defeitos uns dos outros, estaremos sempre esperando o pior do nosso semelhante, e isso não condiz com o amor que devemos dispensar uns aos outros. Suspeitar mal é esperar somente o pior de alguém. Mesmo quando a pessoa já tenha dado motivo para isso, devemos relevar, passando uma borracha no que passou, permitindo que na folha corrida do nosso coração nada conste contra ela.

10. Não Se Regozija Com A Injustiça, Mas Se Regozija Com A Verdade - O amor jamais se dá por satisfeito vendo alguém sendo injustiçado, ou comento alguma injustiça. Quem é movido pelo amor se sente chocado diante de um quadro de injustiça. Ver nosso semelhante passando fome, escravizado, caído, deveria fazer com que nos sentíssemos incomodados. Infelizmente, nossa sociedade perdeu o hábito de chocar-se diante das injustiças. Os jornais sensacionalistas fizeram com que a mais brutal das violências se tornasse algo banal. E o pior de tudo é que tem gente que aprecia esse tipo de coisa. Porém, os que praticam o Novo Mandamento de Deus não se acostumam com nada disso. Pelo contrário, aprecia o que Deus aprecia, e detesta o que Deus detesta. “Vós, que amais ao Senhor, detestai o mal” exorta Davi (Sl.97:10a). E Paulo diz: “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal, e apegai-vos ao bem” (Rm.12:9). Quem diz que tem o amor de Deus e não detesta o que é mal aos Seus olhos, está vivendo uma farsa religiosa, um amor fingido. “Pois eu, o Senhor, amo a justiça; odeio o roubo e a iniqüidade”(Is.61:8a). Alegrar-se diante do que é errado é contrariar o coração de Deus. Nosso coração precisa bater no compasso do coração de Cristo. O que Ele ama, deve ser o que nós amamos. O que Ele abomina, deve ser o que nós abominamos. Quando experimentamos isso, a promessa de Deus para Cristo é estendida a nós também. Eis a promessa: “Amaste a justiça, e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros” (Hb.1:9). E como devemos agir para com aqueles que praticam coisas abomináveis a Deus? Devemos amá-los, porém, reprovando e detestando o seu pecado. Muitos cristãos se sentem bem por não praticarem alguns pecados. Entretanto, o simples fato de apreciarem tais práticas (ainda que não as pratiquem), os faz cúmplices daqueles que as cometem. Paulo nos aconselha a não sermos cúmplices das obras infrutuosas das trevas, antes porém, devemos condená-las (Ef. 5:11). Deveríamos sentir nojo de tudo aquilo que desagrada ao nosso Pai Eterno. Ao mesmo tempo, deveríamos desejar e amar a tudo quanto trás alegria ao coração de Deus.

11. O Amor Tudo Sofre - A palavra traduzida neste texto por “sofre” deriva de um termo grego que significa “telhado”. Pra que serve o telhado? Para cobrir, proteger, suportar a tempestade, promovendo o bem-estar de quem se acolhe no interior da casa. É nesse sentido que o amor se dispõe a sofrer todas as coisas. Não se trata aqui de sofrer por sofrer. O amor não é masoquista! Trata-se sim da disposição de quem ama em, se necessário, dar sua própria vida pela pessoa amada. O importante é oferecer cobertura à pessoa amada, a fim de poupar-lhe do sofrimento. Preferimos ser atingidos a ver nosso semelhante atingido. Isso nada mais é do que amor.

12. O Amor Tudo Crê - Ao invés de nutrir qualquer desconfiança acerca do seu semelhante, quem ama prefere arriscar, e confiar, ainda que as evidências sejam desfavoráveis. As pessoas que nos cercam têm defeitos, assim como nós. Porém, para que suas qualidades sejam manifestadas, elas precisam de encorajamento, através de alguém que ouse crer em seu potencial. Nada é mais estimulante do que saber que há alguém torcendo por nós, e crendo no nosso êxito. É sobre isso que o escritor de Hebreus fala aos seus leitores: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb.10:24).

13. O Amor Tudo Espera - E quando a pessoa em quem acreditamos não corresponde às nossas expectativas, e nos decepciona? A resposta é: O amor tudo espera. A certeza acerca da obra que Deus está por concluir na vida de alguém, é que nos mantém esperançosos. Paulo escreve aos Filipenses: “tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus” (1:6). Portanto, vale a pena esperar. A Bíblia diz que há um tempo para todo o propósito debaixo dos céus. Não precisamos ficar afobados, ansiosos e inquietos. Se toda a expectativa que investimos em quem amamos não for correspondida agora, não devemos simplesmente desistir de amá-lo, mas continuar esperando que o propósito de Deus se cumpra em sua vida.

14. O Amor Tudo Suporta - O amor nunca cede lugar a qualquer outro sentimento. Ele resiste até o fim, suportando as afrontas, os deslizes, as falhas humanas. Ele tolera as perseguições, e até o martírio, se necessário. Como diz o sábio Salomão: “As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (Cant.8:7).

15. O Amor Jamais Acaba - É realmente uma fonte inesgotável. Todas as coisas chegam ao fim um dia, porém, o amor existirá enquanto Deus existir. Ele é co-eterno com Deus. Afinal, “Deus é amor”. Até as manifestações dos dons espirituais hão de cessar um dia. “Havendo profecias, cessarão; havendo línguas, desaparecerão; havendo ciência, passará”. Tudo é transitório, com exceção do amor. “Agora” conclui o apóstolo, “permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor, mais o maior destes é o amor” (1 Co.13:13). Esse é o caminho mais excelente que Paulo se propusera a mostrar-nos. Nada supera o amor; nem mesmo a fé, ou qualquer outro dom. Quando tudo houver chegado ao fim, o amor prevalecerá.

8 - As Marcas do Genuíno Amor

Como é difícil definir o amor! É tão difícil quanto definir Deus, e isso, porque Deus é Amor. A melhor maneira de entendê-lo seria enumerar as suas características. E é isso que Paulo faz em 1 Coríntios 13. Ele escreve:

“O amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece. Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha.” I AOS CORÍNTIOS 13:4-8a

Após demonstrar o valor do amor, Paulo nos aponta algumas caracte-rísticas que vêm autenticar o amor verdadeiro. Neste estudo, nós vamos examiná-las uma a uma.

1. O Amor é Paciente - A palavra usada aqui pode significar “constância”, “tolerância” ou “longanimidade”. Quando dizemos que o amor é constante, estamos descrevendo-o como um sentimento que não está propenso a altos e baixos. Ele é tolerante porque se dispõe a suportar muitos deslizes da pessoa amada. Ele é longânimo tendo em vista o fato de ele ser lento em irar-se. O amor sabe esperar; sabe refrear a ira na hora em que ela está prestes a despontar.

2. O Amor é Benigno
- O vocábulo grego usado aqui significa “gentil”, e aponta para o fato de que o amor está sempre disposto a ser demonstrado. O amor não apenas aproveita as oportunidades para fazer o bem, como também as busca. Quem ama não teme demonstrar o que sente. Podemos afirmar que a bondade é a evidência da presença do amor no coração do cristão. Enquanto ser paciente denota uma atitude passiva, ser benigno denota uma atitude ativa. Enquanto esperamos pacientemente, nos dispomos a agir em favor daquele a quem amamos.

3. O Amor não tem inveja - Uma vez que o amor nos faz favoráveis ao próximo, jamais poderíamos nos sentir incomodados com o sucesso e a felicidade alheias. Pelo contrário, ver um irmão em uma situação melhor do que a nossa, deverá suscitar em nós um sentimento de gratidão a Deus. Uma pessoa despeitada não está vivendo em amor. Não devemos invejar cargos, posições, bens materiais, dons espirituais ou qualquer outra coisa. A inveja faz mais mal ao invejoso do que ao invejado. Não cremos que a inveja em si possa prejudicar quem quer que seja, pois não possui poder algum. O problema da inveja são as atitudes que ela pode produzir por parte de quem a nutre.

4. O Amor não se vangloria - Quem ama não se deixa levar pela vanglória, por um motivo muito simples: reconhece que não possui nada que não tenha recebido de outrem. Vangloriar-se é se auto-exaltar, achando que possui algum bem cuja origem é seu próprio ser. Vangloriar-se é achar-se diferente dos demais, gozando de privilégios a que nenhum outro tem direito. Alguns se vangloriam no que têm, e outros no que fazem. Paulo escreve aos Coríntios: “Pois quem tem faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras re-cebido?” (1 Co.4:7). Quem ama não se vangloria nem do amor que possui, pois sabe que a origem desse amor é Deus, e não o seu próprio ser. Ao invés de vangloriar-se, quem vive em amor gloria-se no Senhor. Isto é, reconhece-O como a fonte de todo o bem. No dizer de Paulo, “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co.1:31).

5. O Amor não se ensoberbece - No original, ensoberbecer-se significa literalmente “inchar-se”, e tem a conotação de atribuir grande importância a si mesmo. Ao invés disse, as Escrituras nos instruem a considerarmos os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3). Quem está cheio de amor próprio, só se preocupa em se auto-afirmar, em provar o seu valor aos outros. Toda pessoa soberba vive fazendo propaganda de si mesmo. Paulo, ainda que fosse o maior dos apóstolos, não se ufanava disso. Ele mesmo escreveu aos Coríntios: “...que ninguém pense de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve” (2 Co.12:6). Quem ama está preocupado em valorizar o próximo, e não a si mesmo.

6. O Amor não se porta inconvenientemente - Em outras palavras, o amor preza pelas boas maneiras. Cada atitude a ser tomada, deve ser pautada pelo bom senso. Jamais se deve agir de maneira arrogante, ferindo ou incomodando a outros. Aquele que não vive em amor, não se importa com o incômodo que suas ações poderão produzir ao próximo. Quando se vive em amor, preocupa-se com o decoro, com a decência, com os bons modos. Ainda que tenhamos que sacrificar a nossa liberdade, não podemos visar o nosso próprio bem-estar. É isso que dita a nossa conduta. Escrevendo aos Romanos, Paulo diz: “Um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come, e o que come não julgue o que come, pois Deus o recebeu por seu (...) quem come, para o Senhor come, pois dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Pois nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor (...) Portanto, não nos julguemos mais uns aos outros. Antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (...) Se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu (...) Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus (...) Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça (...) Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Pois também Cristo não agradou a si mesmo...” (Rm.14:2-3,6-8,13,15,19-20a,21; 15:1-3a).

7. O Amor não busca seus próprios interesses - Numa outra tradução, o amor não insiste sobre os seus próprios direitos. Os que vivem em amor não buscam tirar vantagem em cima dos outros. “Que lucro essa pessoa pode me dar? Como posso usá-la para meus próprios benefícios?” Perguntas como estas surgem na mente de quem não sabe o que é o amor. Quem vive o amor de Deus pergunta a si mesmo: “Como posso beneficiar o meu irmão?” Ainda que isso signifique sofrer algum prejuízo. Um exemplo disso, encontramos na epístola de Paulo a Filemon. Este era um homem proeminente na sociedade, e havia se convertido à fé cristã. Quando Paulo estava preso, conheceu na prisão um homem chamado Onésimo, que havia sido escravo de Filemon, mas tinha fugido, dando prejuízo ao seu senhor. Paulo o evangelizou, e o conduziu a Cristo. Logo após, Onésimo foi solto. Paulo, então, escrevendo ao a Filemon, pede que este o receba como se estivesse recebendo o próprio apóstolo, “não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado (...) Portanto” roga Paulo, “se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-a na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de meu próprio punho, o pagarei” (Fm.16-19a). Assim age quem ama. Ainda que se tenha de sacrificar em favor de seu semelhante.