Aquele que está em Cristo deve viver em amor, manifestando o fruto resultante de sua comunhão com o Espírito Santo. Entretanto, ainda estamos habitando em um corpo carnal, e por isso, estamos “sujeitos às mesmas paixões”. Em nosso espírito reside o mais puro amor derramado pelo Espírito que nos foi dado, mas em nossa carne habita outros tipos de sentimentos e impulsos com os quais precisamos aprender a lidar.
É de Paulo a declaração: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm.7:18a). Se há algum bem em nós, este bem está em nosso espírito, e não em nossa carne.
De acordo com a Escritura, “o que se une ao Senhor é um só espírito com Ele” (1 Co.6:17). Portanto, nosso espírito está perfeito, completo, não havendo nada para ser feito nele. Pelo simples fato de estarmos em Cristo, estamos completos! “Recebestes a plenitude em Cristo”, afirma Paulo em outra passagem (Col. 2:10). Porém, tudo isso é realidade na esfera do espírito.
Nosso espírito tornou-se receptáculo do amor de Deus, derramado profusamente em nossos corações (Rm.5:5).
A obra que Deus tinha para fazer em nosso espírito, foi feita na Cruz, quando “com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sempre santificados” (Hb. 10:14). Ao nos unirmos a Ele no momento em que nos convertemos, aquela obra passa a ser real em nossa vida. Portanto, nada há que possamos fazer para melhorar o que já está completo.
A despeito disto, temos que aprender a lidar com os impulsos latentes em nossa carne. Entre a carne e o Espírito há um árbitro: nossa própria alma. Se nossa alma (psiquê) aliar-se à carne, fatalmente seremos levados a atender aos seus apelos pecaminosos. Porém, se nossa alma aliar-se ao Espírito, nossa carne se renderá.
O que significa “andar em Espírito”, e “andar na carne”? Quando a Bíblia fala “no Espírito”, está falando da Natureza Divina que nos é infundida pelo Espírito Santo de Deus. Andar no Espírito eqüivale a atender aos impulsos gerados por esta Natureza Divina.
Pedro afirma que somos “participantes da Natureza Divina” (2 Pe.1:4). É a própria vida de Deus que está pulsando dentro de nós. Se atendemos aos seus impulsos, andamos de acordo com Deus, reproduzindo a vida de Jesus.
Não podemos confundir os termos. “Estar no Espírito” é uma coisa, “andar no Espírito” é outra coisa. Pode-se estar no Espírito, sem necessariamente andar n’Ele.
Nós estamos no Espírito desde o dia em que nos convertemos a Cristo. A partir daí, fomos tirados de Adão, e enxertados em Cristo. Portanto, estar em Cristo é o mesmo que estar no Espírito.
Já “andar no Espírito” são outros quinhentos. Estamos no Espírito porque recebemos a Cristo pela fé. Andamos no Espírito porque fizemos desta fé a prática da nossa vida. Vivemos em conformidade com esta fé. Paulo argumenta: “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl.5:25). Estar no Espírito é uma questão de fé, enquanto que, andar no Espírito é uma questão de prática.
João nos oferece um argumento bem semelhante ao de Paulo: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 Jo. 2:60). Há muitos que, embora estejam em Cristo, insistem em andar na carne. Isso é um contra-senso. Temos que andar de forma digna da vocação com que fomos chamados (Ef.4:1). A vida de Deus que flui através de nós precisa ser manifestada em nossa conduta. Paulo dava muito valor a isto. Segundo ele, o “mais importante”, é que devemos nos portar “dignamente conforme o evangelho de Cristo” (Fp.1:27).
Se a minha fé não afetar o meu andar cotidiano, eu estarei vivendo uma espiritualidade falsa, e não o verdadeiro cristianismo.
Uma vez que Cristo vive em nós, já não nos é impossível reproduzir Sua vida em nossa caminhada diária. Por isso, Paulo nos instruiu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor...” ( Ef.5:1-2a). Ora, andar em amor é o mesmo que andar em Espírito:
“Ninguém jamais viu a Deus; mas se amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é aperfeiçoado o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito (...) E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. DEUS É AMOR. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele." 1 João 4:12-13, 16.
Nossa comunhão com Deus deve ditar a nossa conduta neste mundo. Se de fato vivemos n’Ele, recebendo d’Ele Sua Natureza, devemos agir como Ele, amando, perdoando, e interagindo com o nosso semelhante da maneira como Cristo faria.
Somente os que estão em Adão vivem na carne. Porém, quanto a andar na carne, mesmo cristãos sinceros podem fazê-lo, caso não busquem no Espírito o poder para vencê-la.
Por isso Paulo não se cansava de exortar aos seus leitores a que não dessem lugar a carne: “Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz. A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”(Rm.8:5-9).
Quem ainda não foi removido de Adão não tem a menor chance de vencer as inclinações da carne. Pode até receber uma educação refinada, porém, quando menos se espera, a natureza adâmica se manifesta. Ademais, a carne jamais se converte. Daí a importância de andarmos constantemente no Espírito. “Andai no Espírito” insiste o apóstolo, “e não satisfareis à concupiscência da carne” (Gl.5:16).
E quem decide se vamos andar no Espírito ou na carne? A nossa alma. Se a nossa mente estiver renovada pela Palavra de Deus, ela sempre se aliará ao Espírito, e com isso, a carne com seus impulsos será sempre vencida.
Paulo diz que “a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito o que é contrário à carne. Estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl.5:17). Veja que neste texto há três elementos: o Espírito, a Carne, e o nosso “eu”, referindo-se aí à nossa alma, que é o centro de nossa vontade. Temos que dar ouvidos ao Espírito, e aliar-nos a Ele no combate à nossa natureza pecaminosa. É pelo Espírito que mortificamos as obras do corpo (Rm.8:13).
Enquanto a nossa mente (alma) não for renovada pela Palavra, a nossa carne predominará. Não podemos nos esquecer de que o Espírito trabalha em conjunto com a Palavra. Por mais que o Espírito nos tenha sido derramado, Sua obra em nossa vida vai ficar restrita ao conhecimento que tivermos da Sua Palavra. À medida que a alma vai absorvendo as verdades da Palavra, o Espírito vai transformando-nos à imagem de Deus, e sujeitando a nossa carne à servidão. “Portanto”, escreve Paulo, “rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”(Rm.12:1-2a).
Uma coisa está estreitamente ligada à outra. Não podemos apresentar os nossos corpos ao serviço do Senhor, sem antes termos a nossa mente renovada. Caso isso não aconteça, estaremos nos conformando a este mundo, isto é, adotando os seus padrões de comportamento, e não nos adequando à imagem de Jesus.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
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