As relações comerciais existem desde que os seres humanos começaram a partilhar seus pertences. Tais relações se davam, inicialmente, à base de trocas. Se alguém dispunha de grãos, enquanto seu vizinho dispunha de carne, trocava-se alguns punhados de grão, por um pedaço de carne.
Mais tarde, surgiria a moeda, que aos poucos, passaria a ser largamente usada na aquisição de bens.
No início, as pessoas trabalhavam para si mesmas. Caçavam, pescavam, cultivavam a terra, e produziam suas próprias vestimentas. Mas com o tempo, as pessoas se ofereceriam para trabalhar para outras, por comida, por estadia, e mais tarde, por dinheiro. Surgia, então, a remuneração.
Encontramos nas Escrituras casos como o de Esaú, que trocou sua primogenitura por um prato de lentilhas.
Depois encontramos Jacó, que trabalhou de graça por 14 anos para seu tio Labão em troca de Raquel, com quem desejava se casar.
Tais relações comerciais são permitidas por Deus, tendo em vista o fato de que ninguém é auto-suficiente. Todos precisamos uns dos outros. O que um produz, alimenta a outros. O trabalho de um, beneficia a outros, e assim por diante.
Porém, acima de tudo, dependemos de Deus.
Afinal, não podemos nos esquecer que a Terra, e tudo quanto ela produz, pertence a Deus, embora tenha sido confiada aos cuidados do homem.
Leia atentamente o que diz a Bíblia acerca disso:
“Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam”.
Salmos 24:1
Não há um único centímetro quadrado deste mundo de que o Senhor não diga: É meu!
Não só as coisas, como também as pessoas deste mundo pertencem a Ele. Até mesmo os animais:
“Pois meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de colinas. Conheço todas as aves dos montes, e é meu tudo o que se move no campo”.
Salmos 50:10-11
Nem o reino mineral escapa desta verdade:
“Minha é a prata, e meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos”.
Ageu 2:8
Diante de tais afirmações, concluímos que nada que tenhamos é realmente nosso. Todas as coisas pertencem a Deus. Não somos donos de coisa alguma, nem mesmo dos nossos filhos.
“Pois todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha”.
Ezequiel 18:4a
Somos apenas mordomos, administradores daquilo que pertence ao Criador. Podemos até desfrutar das coisas deste mundo, mas jamais estabelecer uma relação de posse com elas. Por isso Paulo diz que “os que compram” deveriam se portar “como se nada possuíssem”, e “os que usam deste mundo, como se dele não abusassem” (1 Co.7:30b-31a).
Aquilo que dizemos possuir, nada verdade, nos possui, pois toda relação de posse é recíproca.
O único bem permanente que possuímos é o nosso Deus. Por isso o salmista dizia: “Não tenho outro bem além de Ti” (Sl.16:2b).
Entre nós e Deus há uma relação de posse recíproca. Podemos declarar como Sulamita: “O meu amado é meu, e eu sou dele” (Cant.2:16a). E o próprio Deus é quem afirma: “Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Co.6:16b).
Quando estabelecemos uma relação de posse com alguma coisa, fazemos daquilo nosso tesouro. E de acordo com Jesus, “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt.6:21).
É aí que mora o problema!
Não há nada de errado em ser próspero. Entretanto, corremos sérios riscos quando nos deixamos seduzir pelas riquezas deste mundo.
Foi reconhecendo isso que o sábio Salomão orou:
“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que me é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus”.
Provérbios 30:8-9
Devemos desejar ser prósperos, não ricos. E se, eventualmente, nos tornarmos ricos, devemos atentar para o conselho de Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundandemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” ( 1 Tm.6:17).
Repare bem: Deus nos dá abundantemente todas as coisas. E pra quê? Para delas gozarmos, desfrutarmos. Mas não pra que as possuamos. Desfrutar é uma coisa, possuir é outra totalmente diferente.
O salmista nos exorta: “Ainda que vossas riquezas aumentem, não ponhais nelas o coração” (Sl.62:10b).
Afinal, “nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele” (1 Tm.6:7). “Como saiu do ventre da sua mãe, assim nu voltará, indo-se com veio. Nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão” (Ec.5:15). Tudo neste mundo é passageiro, efêmero. Não vale a pena colocar o coração em tesouros que acabam corroídos pela ferrugem, ou comidas pelas traças.
E o pior de tudo isso é que “os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm.6:9-10).
A diferença entre ser próspero e ser rico está no foco. Segundo os princípios do Reino de Deus, o próspero é aquele que se torna canal de bênçãos para outros. É aquele que entende que “o proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. O que ama o dinheiro nunca se fartará dele; quem ama a abundância nunca se farta da renda. Isto também é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem” (Ec. 5:9-11).
O apóstolo João, escrevendo a Gaio, declarou: “Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” (3 Jo.2).
O salmista declara que o Senhor se deleita na prosperidade do seu servo (Sl.35:27). Portanto, não há errado em querer ser próspero.
Já o “rico” é aquele que faz da riqueza um fim em si mesma, colocando nela a sua esperança. A estes, o Espírito Santo adverte: “Fitarás os olhos naquilo que não é nada? Porque certamente isso fará para si asas, e voará ao céu como a águia” (Pv.23:5).
A riqueza é circunstancial, já a prosperidade é um estado de espírito. Pode-se ser próspero, sem jamais ser rico aos olhos do mundo. O rico só pensa em si mesmo, e em como acumular cada vez mais riquezas ao seu tesouro particular. Já o próspero está mais preocupado em utilizar sua prosperidade para fazer o bem. Mesmo desfrutando dela, sua prioridade é torná-la uma bênção para outros. As Escrituras afirmam: “Sei que não há coisa melhor para eles do que se alegrarem e fazerem o bem na sua vida, e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus” (Ec.3:12-13).
No conselho que Paulo dá aos “ricos deste mundo”, ele acrescenta: “Que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm.6:18).
O Criador nos deu o direito de comer do bem desta Terra (Is.1:19). E também nos ordenou que vivéssemos do suor do nosso rosto (Gn.3:19). O trabalho, portanto, é o meio estabelecido por Deus, para que prosperemos, e assim, possamos ser bênção para nossa família, e para nossos semelhantes. Paulo diz que todo filho de Deus deve trabalhar, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (Ef. 4:28b).
Trabalhar, desfrutar, repartir. Este é o tripé sobre o qual repousa a prosperidade do justo.
Já os que querem ficar ricos, edificam suas vidas sobre outro tripé: trabalhar, acumular, desfrutar.
Seria bom que eles lessem a parábola de Lázaro, e desde já, colocassem suas barbas de molho.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário