quinta-feira, dezembro 07, 2006

6 - Um Novo Mandamento

Estamos entrando na parte prática de nosso discipulado. A pergunta é: Como devemos lidar com as questões práticas do nosso cotidiano? Áreas como os relacionamentos familiares, conduta profissional, submissão às autoridades constituídas, amizades e muitas outras estarão sendo tratadas nesta nova fase de nosso estudo.
Não podemos nos esquecer de que agora somos novas criaturas, cidadãos do Reino de Deus, e que não devemos mais andar como antes.
Em sua epístola aos Efésios, Paulo entra no aspecto prático da vida cristã dizendo:

“Não andeis mais como andam os outros gentios, na vaidade do seu pensamento, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração”.
Efésios 4:17-19.

E como andam os outros gentios? Na vaidade do seu pensamento. A vida de quem não conhece a Deus é centrada em seu próprio “eu”. Paulo diz que o “deus” deles é o seu ventre (Fp.3:19). Em outras palavras, eles estão voltados para o seu próprio umbigo. “Os tais” afirma o apóstolo, “não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre” (Rm.16:18). Por isso, sua conduta é ditada pela sua própria vaidade.
Pessoas assim se justificam do erro que cometem dizendo: - Eu me sinto bem, assim. Não quero mudar. Eu só quero é ser feliz e me sentir bem comigo mesmo.
Porém nós, ao nos convertermos a Cristo, convertemo-nos também ao nosso próximo, de forma que nossa conduta é ditada por aquilo que vai ou não agradar a Deus, ou ferir o nosso próximo. Entendemos que Cristo morreu por nós, para que não vivamos mais para nós mesmos (2 Co.5:15).
Quem realmente deseja tornar-se discípulo de Jesus, precisa experimentar a morte do seu ego. Se isso não acontecer, ele jamais vai compreender o novo mandamento de nosso Senhor Jesus Cristo.

· O NOVO MANDAMENTO

Na Antiga Aliança, o mandamento de Deus acerca do amor que deveríamos dispensar ao nosso próximo era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19:18).
Para que o ser humano compreendesse o que era amor, Deus estabeleceu como parâmetro o “amor próprio”, isto é, o amor que cada pessoa tem por si mesma. Se alguém perguntasse: Como devo amar ao meu próximo? Deus responderia: Como você ama si mesmo.
Depois da Queda, o homem encheu-se de amor próprio, fruto do seu orgulho, e da quebra de sua comunhão com Deus. O homem morreu espiritualmente. Nesse estado, ele não tinha condição sequer de amar a Deus, quanto mais ao seu próximo. Então, por que Deus exigiu do homem algo que ele não poderia fazer? Para que o homem aprendesse a depender da graça e da misericórdia divinas. Através da Lei, Deus quis mostrar ao homem a sua total inabilidade em alcançar o grau de retidão exigido por Deus, para que sua comunhão com Ele fosse reatada. Entretanto, Deus prometeu que um dia isso mudaria, quando o Seu Espírito fosse derramado sobre o homem, possibilitando-o de cumprir os Seus mandamentos. Ele disse:

“O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração dos teus descendentes, a fim de ames ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda alma, para que vivas.”
DEUTERONÔMIO 30:6.

Como até aquele momento, a maior referência de amor de que dis-punha era o amor próprio, Deus o utilizou como parâmetro, para que o homem pudesse ter uma vaga idéia do que era o amor.
Quando Jesus veio a este mundo, Ele nos revelou a vontade de Deus de forma muito clara ao estabelecer um Novo Mandamento.
Primeiro, Ele afirmou que “quem ama a sua vida, perdê-la-á, mas quem odeia a sua vida neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo.12:25). Esse foi o primeiro golpe diferido por Jesus no amor próprio. A partir daí, os discípulos já puderam compreender que o que Deus queria não era que eles amassem os outros como a si mesmos, pelo simples motivo de que, eles já não deveriam amar a sua própria vida. E agora? Que tipo de amor eles deveriam dispensar ao seu semelhante? Afinal, até aquele momento, eles não conheciam nenhum outro tipo de amor, senão aquele.
Após ter lavado os pés dos Seus discípulos, Jesus lhes disse:

“Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei a vós, assim também deveis amar uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
JOÃO 13:34-35.

Antes de proferir estas palavras, Jesus deu uma pequena demonstração do que era o Seu amor. Ele não estava preocupado com o que as pessoas iriam pensar d’Ele, vendo-O ajoelhado perante os Seus subalternos, lavando os seus pés. Sua preocupação era revelar-lhes o mais profundo sentido do Amor. A partir da Nova Aliança, o amor próprio já não nos serve de parâmetro do amor que devemos dispensar aos outros. O novo parâmetro é o amor de Deus por nós. Devemos amar ao semelhante assim como Ele nos amou.
Alguém poderá relutar: - Mas se nós não temos sequer condição de amar ao próximo como a nós mesmos, quanto mais amá-lo como Deus nos amou! Realmente, não temos condição de amar como Deus nos amou. É por isso que temos que experimentar a morte do “eu”, para que, então, Cristo possa viver Sua vida através de nós, amando, perdoando e aceitando as pessoas de uma maneira como nós jamais conseguiríamos fazê-lo.
O apóstolo Paulo chegou à conclusão que era simplesmente impossível alcançar o nível de retidão e santidade exigido por Deus. Foi então que ele descobriu que só havia uma saída. Ele a expressou da seguinte maneira:

“Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” GÁLATAS 2:20.

Que descoberta tremenda! Enquanto as pessoas teimarem em tentar alcançar esse nível de amor por esforços próprios, elas se frustrarão. É importante que o homem admita a sua incapacidade, e reconheça que o seu velho “eu” não merece outra punição senão a cruz. A conclusão de Paulo é que se Cristo “morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (2 Co.5:14-15).
Quando reconhecemos “que o nosso velho homem foi com ele crucificado”, e passamos a nos considera como mortos para o pecado, a vida de Cristo passa a fluir através de nós (Rm.6:6,11). Desta maneira, passamos a amar como Ele amou. Já não vivemos para nós mesmos. Nosso “deus” não é mais o nosso ventre. Tudo o que fizermos, a partir daí, terá como propósito a glória de Deus, e o bem-estar de nosso semelhante.
É na morte do “eu” que experimentamos a verdadeira vida abundante. João afirma que o meio pelo qual sabemos que já passamos da morte para vida é o fato de amarmos os irmãos. “Quem não ama” adverte o apóstolo, “permanece na morte (...) Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1 Jo.3:14,16).
O quê? Dar vida pelos irmãos? Será que Deus está nos convidando ao martírio? É claro que não! Dar a vida pelos irmãos é viver em função do seu próximo, e não em função do seu próprio bem-estar.
Foi assim que Cristo agiu. Ele não pensou em Si mesmo em momento algum. Antes, Ele dispôs-Se a morrer por nós; não por merecermos Seu amor, e sim, porque Ele mesmo é amor.
A Bíblia diz que deve haver em nós o mesmo sentimento que houve em Cristo (Fp.2:5). Se tivermos que morrer por alguém, não nos negaremos a fazê-lo. É este tipo de amor que nos faz vencer a contínua oposição de Satanás. Em Apocalipse 12:11 lemos que nós o vencemos por causa de três fatores:
Primeiro - Por causa do sangue do Cordeiro. Isto é, o fato de haver Cristo nos amado a ponto de dar Sua vida por nós, torna-nos mais que vencedores. Paulo disse que nós somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou (Rm.8: 37).
Segundo - Nós vencemos o diabo por causa da palavra do nosso testemunho. Quando confessamos Jesus como nosso Senhor e Salvador, esse testemunho nos faz imunes às acusações de Satanás.
Terceiro - Nós o vencemos por não amarmos a nossa vida até a morte! O fato de termos a disposição de morrermos por nosso Senhor, e pelo nosso semelhante nos coloca em vantagem contra o diabo. Enquanto ele encontrar em nós algum resquício de amor próprio, ele terá um ponto de apoio para atuar em nossa vida. O amor próprio constitui-se a base de operação para o adversário. Quando nos consideramos mortos, e vivemos em função do reino de Deus, as fortalezas usadas pelo inimigo são dinamitadas, e em seu lugar, é erigido um altar de adoração a Deus.
É bom frisar que a obediência ao Novo Mandamento de Jesus não depende de nosso esforço pessoal. É Cristo habitando em nós pelo Seu Espírito que produz em nós esse nível de amor. Paulo diz que “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm.5:5). Portanto, não se trata de um produto humano, mas divino. Antes de partir deste mundo, Jesus orou ao Pai, pedindo para que o amor com que o Pai O amou estivesse em Seus discípulos, através de Sua presença neles (Jo.17:26).

5 - A Recompensa do Discípulo

Não podemos nos esquecer de que há uma recompensa reservada para aqueles que O seguirem. Um dia, Pedro resolveu desabafar-se com Jesus, dizendo:

“Nós tudo deixamos, e te seguimos. Respondeu Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, JÁ NO PRESENTE, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições, e no mundo por vir a vida eterna.”
MARCOS 10:28-30.

Esta é uma promessa ainda válida para os dias de hoje! Embora o preço pago por um discípulo seja alto, a recompensa é ainda maior. Portanto, vale a pena seguir a Jesus.
O fato é que aquele que segue a Jesus, tem sua vida assumida por Ele.
Ao enviar, de uma só vez, setenta discípulos ao campo missionário, Jesus lhes orientou a não levarem bolsa, bagagem, dinheiro ou qualquer outra provisão. A princípio, os discípulos podem não ter compreendido aquela instrução. Porém, mais tarde, Jesus lhes perguntou:

“Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou sandálias, faltou-vos alguma coisa? Responderam eles: NADA.”

LUCAS 22:35.

Que lição Jesus queria dar aos Seus discípulos, afinal? Ele queria demonstrar-lhes que Deus os havia assumido, a fim de poupar-lhes de toda e qualquer preocupação com sua subsistência.
Quando Deus exige que coloquemos n’Ele todo o nosso coração, é para que não sejamos consumidos pela ansiedade. Assim como não deixou faltar absolutamente nada àqueles setenta, Ele jamais vai permitir que falte qualquer coisa àqueles que, obstinadamente, deixaram tudo para segui-lO. A promessa é que receberemos cem vezes mais daquilo que deixamos para nos tornarmos discípulos de Jesus.

· BÊNÇÃO PARA OS OUTROS

Não somos chamados apenas para sermos abençoados, mas para sermos bênçãos para aqueles que nos cercam.Tornamo-nos herdeiros da bênção de Abraão, o primeiro a deixar tudo para trás para seguir a orientação de Deus. Nesse sentido, podemos dizer que Abraão foi o primeiro discípulo, mesmo tendo vivido milhares de anos antes do nascimento do Filho de Deus.
Quando Deus o chamou, Ele ordenou que Abraão deixasse a sua terra, sua parentela e seus pais. Este foi o preço que Abraão teve que pagar. Porém, Deus prometeu que ele haveria de ser uma bênção. O Senhor Deus lhe disse:

“Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem.”
Gênesis 12:3a

Todo crente em Jesus é um abençoado, mas somente os discípulos são uma bênção.

Esta é a bênção de Abraão, da qual todo discípulo de Cristo é herdeiro. Paulo diz que Cristo nos resgatou para que a bênção de Abraão pudesse chegar a nós (Gl.3:14).
Todo cristão é um abençoado, porém, somente os verdadeiros discípulos podem dizer que são uma bênção. E o que é ser uma bênção? É ser um veículo para abençoar a outros.
Qualquer pessoa que nos abençoar, será abençoada. Isto quer dizer que, qualquer que nos beneficiar, será beneficiado. Foi o próprio Jesus quem disse que “quem der a beber ainda que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, POR SER MEU DISCÍPULO, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt. 10:42).
E quanto aos que nos perseguem? Serão eles amaldiçoados?
Embora isso fizesse parte da promessa de Deus a Abraão, não podemos nos esquecer de que vivemos numa Nova Aliança, onde o interesse de Deus é abençoar, e não amaldiçoar. Até porque, muitos dos que nos perseguem hoje, poderão se converter amanhã, tornando-se também uma bênção. Que o diga Paulo!
Pedro nos aconselha, dizendo:

“Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria. Pelo contrário, abençoai, porque para isso fostes chamados, a fim de receberdes bênçãos por herança.”
I Pedro 3:9.

Por isso, não podemos sair por aí amaldiçoando a quem quer seja. Paulo que havia sido um perseguidor da Igreja antes de se converter, nos admoesta:

“Abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis.”
Romanos 12:14.

Devemos encarar isso como um mandamento de Deus para nós. Veja ainda o que diz Tiago, irmão carnal do Senhor Jesus:

“Com ela ( a língua ) bendizemos ao Senhor e Pai, e também com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto seja assim.”
TIAGO 3:9-10.

Portanto, fica claro que devemos buscar beneficiar a todos os homens, até mesmo àqueles que procuram prejudicar-nos. Deixemos que Deus julgue a nossa causa, e dê aos nossos inimigos o que Ele achar justo. “Se for possível” diz Paulo, “quanto depender de vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira, pois está escrito: Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber (...) Não te deixes vencer do mal, mas VENCE O MAL COM O BEM” (Rm.12:18-21).


· A PRINCIPAL RECOMPENSA

A principal recompensa que o discípulo recebe é ter a certeza da presença de Cristo. O discípulo compreende que, mediante a comunhão do Espírito e da Palavra, ele está em Cristo, e Cristo está nele. É por estar em Cristo, que, onde quer que Cristo esteja, lá está o Seu discípulo. Jesus expressou a Sua vontade quanto a isso, quando disse em oração:

“Eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitos em unidade (...) Pai, quero que onde eu estiver, estejam também comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória, a glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo.”
JOÃO 17:23a, 24.

Esta unidade perfeita já é real para nós, pois, de acordo com Paulo, estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo Jesus, tendo-nos tornado um só espírito com Ele (Ef.2:6 e 1 Co.6:17).
João teve uma visão gloriosa acerca disso. Segundo o relato encontrado em Apocalipse 14:1,4b-5, João viu “o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que traziam escrito na testa o seu nome e o nome de seu Pai (...) Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados para ser as primícias para Deus e para o Cordeiro. Na sua boca não se achou engano; são irrepreensíveis.”
É claro que o número 144.000 é figurativo, e simboliza a totalidade daqueles em cujas vidas cumpriu-se o eterno propósito de Deus. Veja que João diz que eles são irrepreensíveis. São de fato, discípulos do Senhor Jesus. Portanto, onde quer que o Senhor esteja, ali também estarão eles.
Um dia teremos o privilégio de vê-lO tal qual Ele é. Sua presença será usufruída em toda a Sua plenitude, e teremos toda a eternidade para admi-rarmos a formosura do nosso Rei. Quando isso acontecer, teremos a certeza de que terá valido a pena toda a renúncia que fizemos a fim de segui-lO. Esse, de fato, há de ser o maior de todos os galardões.

4 - As Marcas do Discípulo II

· VIDA FRUTÍFERA

A terceira característica do discípulo é a vida frutífera. Foi Jesus quem afirmou que o Pai é glorificado quando damos “muito fruto”, e assim nos tornamos Seus discípulos (Jo.15:8). E que frutos são estes? São as boas obras que produzimos através do Espírito Santo. O discípulo compreende que as suas boas obras não são a causa da sua salvação, mas são a conseqüência dela. Por estarmos em Cristo, enxertados na Videira Verdadeira, devemos dar muitos frutos. É nossa comunhão com Deus, por meio do Seu Espírito, que vai gerar tais frutos. Eles não resultam da nossa própria natureza caída e pecaminosa, mas da natureza divina da qual somos participantes (2 Pe.1:4)

Paulo escreve aos Colossenses:

“E oramos para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, FRUTIFICANDO em toda a boa obra...”
Colossenses 1:10a.

Estes frutos, repito, não são a causa da nossa salvação. Por isso, são chamados frutos. Nós, de nós mesmos, não temos condição de darmos frutos para Deus. Somente quem está enxertado na Videira, que é Cristo, pode frutificar para Deus. Paulo diz que desejava que os seus discípulos de Filipos fossem “cheios do fruto da justiça, o qual vem POR MEIO de Jesus Cristo” ( Fp.1:11a).
Já o escritor de Hebreus termina a sua epístola orando para que os seus discípulos fossem aperfeiçoados em toda a boa obra, a fim de fazerem a vontade de Deus, que operaria neles o que perante Ele é agradável por meio de Jesus Cristo (Hb.13:21).
O verdadeiro discípulo do Senhor Jesus tem prazer de dar frutos que glorifiquem a Deus. Ele não entende isso como dever apenas, e sim, como seu maior prazer!
Suas boas obras não têm como pretensão fazê-lo merecedor de coisa alguma da parte de Deus, pois ele entende que tudo quanto Deus nos dá é pela graça, e não por seus méritos. Entretanto, suas boas obras têm como objetivo agradar a Deus, e render glórias ao Seu nome.
Quando estamos em comunhão com Cristo, através do Seu Espírito Santo, os frutos aparecem naturalmente, ou melhor, sobrenaturalmente. Podemos dizer que os frutos vêm de uma forma naturalmente sobrenatural. E o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade (inclusive nos dízimos), mansidão, domínio próprio (Gl.5:22-23). Repara que o Espírito Santo produz um único fruto em nós, mas que está dividido em diversos gomos. Esse único fruto do Espírito é multiplicado através dos nossos atos. Cabe ao Espírito fazer-nos par-ticipantes da seiva da Videira Verdadeira, produzindo em nós a capacidade de frutificar. Porém, cabe a nós aproveitar cada oportunidade que se nos apresente para manifestarmos esses frutos, agradando a Deus, e levando os homens a glorificá-lO.
Afinal, foi para isso que Ele nos escolheu e nos designou:

“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo o que em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda. Isto vos ordeno: Amai-vos uns aos outros”.
João 15:16-17.


· DESPRENDIMENTO

Além de “aluno”, “aprendiz”, a palavra discípulo também traz o significado de “seguidor”. Seguir Jesus implica em uma postura de desprendimento. Podemos perceber isto nitidamente nas passagens que narram a chamada dos primeiros discípulos de Jesus.
Em Mateus lemos que “andando Jesus junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. IMEDIATAMENTE ELES DEIXARAM AS REDE, E O SEGUIRAM. Indo um pouco mais longe, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Estavam num barco em companhia de seu pai Zebedeu, consertando as redes. Jesus os chamou, e eles, deixando o barco e seu pai, imediatamente o seguiram” (Mt.4:18-22).
Se quisermos ser discípulos qualificados para seguirmos o Mestre, não podemos estar presos a nada desta vida. Temos que estar sempre disponíveis a atender ao Seu chamado.
Deus não tem tempo a perder! Se não nos dispusermos a atender ao Seu chamado de imediato, estaremos correndo o risco de sermos repreendidos, ou até reprovados.
Paulo diz que não devemos embaraçar-nos com os negócios desta vida, a fim de agradar àquele que nos alistou (2 Tm.2:4).
Lucas relata que certo dia aproximou-se de Jesus um homem que queria tornar-se Seu discípulo. Eufórico, aquele homem disse: “Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc.9:57-58). Não sabemos se aquele homem desistiu daquela idéia após ter ouvido tal declaração. Sou tentado a achar que sim. Não havia sido Jesus Quem o chamara; ele mesmo se havia oferecido para seguí-lO.
Quando Jesus desejava recrutar novos discípulos, Ele mesmo os chamava. Toda vez que alguém se oferecia, Ele logo advertia ao pretendente quanto ao alto preço que deveria ser pago. Desta forma, a maioria daqueles que se ofereciam desistia no meio do caminho.
Segundo Lucas, assim que Jesus mostrou àquele homem que segui-lO requeria desprendimento, Ele disse a outro: “Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai. Respondeu Jesus: Deixa os mortos o enterrar os seus mortos, porém tu vai e anuncia o reino de Deus. Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me primeiro despedir dos que estão em minha casa. Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (Lc.9:59-62).
É interessante notarmos que dos três, apenas um foi chamado por Jesus a segui-lO, os outros dois se ofereceram. No primeiro e no terceiro caso, Jesus não insistiu que eles O acompanhassem, pois sabia que não estariam dispostos a pagarem o preço do desprendimento e da renúncia. Porém, o segundo, embora tenha pedido que fosse enterrar seu pai antes de segui-lO, Jesus ordenou que ele fosse e anunciasse o reino de Deus. Veja que Jesus não o impediu de ir ao enterro do seu pai. O que Jesus pretendia era mostrar-lhe que, muito mais importante do que enterrar um ente querido, era anunciar o reino de Deus aos que estavam vivos.
A prova dos nove para que saibamos se fomos ou não chamados por Cristo a segui-lO é verificarmos onde está o nosso coração. Se não estivermos dispostos a abrir mão de qualquer coisa para segui-lO, então, provavelmente não compreendemos o chamado do discipulado, e talvez, nem ao menos tenhamos sido chamados.
E quem são os chamados? Os que foram escolhidos. Não fomos nós que O escolhemos, e sim, Ele escolheu-nos, conforme lemos em João 15:16. Diz o Apóstolo Paulo: “Aos que predestinou, a estes também chamou” (Rm.8:30).
Se o seu coração está em Jesus, e não se prende a coisa alguma, então, você pode considerar-se um escolhido e chamado por Deus a seguir o Mestre.

3 - As Marcas do Discípulo I

Como podemos reconhecer um autêntico discípulo de Jesus? Vivemos em um tempo difícil, quando muitos se introduzem no meio da igreja com fins malignos e interesseiros. Será que há uma maneira pela qual possamos reco-nhecer os verdadeiros seguidores de Cristo? Que características os fazem destinguir dos demais?

· Relacionamento Com Deus

A primeira característica que gostaríamos de ressaltar é o profundo relacionamento que o discípulo tem com o seu Senhor, por meio da Sua Palavra e de uma vida de oração.
Jesus disse aos judeus que haviam crido nEle:

“Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos.”
João 8:31.

O genuíno discípulo é aquele que ama a Palavra do Seu Mestre. Ela é a sua regra de fé e de vida. Ele nada faz sem consultá-la antes.
Há muitos que até gostam de ouvir a Palavra, porém, não permanecem nela. Eles a ouvem como puro entretenimento. Acham-na interessante, porém, não a praticam.
Tiago nos aconselha a recebermos com mansidão a palavra em nós implantada, pois ela é poderosa para salvar as nossas almas (Tg.1:21).
Nem sempre a Palavra que ouvimos vai de encontro àquilo que acreditamos ser o certo. Muitas vezes acontece exatamente o contrário: ouvimos algo que vai contra tudo o que imaginávamos ser correto. Neste momento, precisamos acatar com mansidão a Palavra, pois ela nos é dirigida visando o bem de nossa alma.
Quando recebemos a Cristo, nosso espírito renasceu, e fomos salvos. Porém, nossa mente trouxe uma série de pensamentos que não coadunam com a verdade do Evangelho. Paulo diz que muitos desses pensamentos formam verdadeiras fortalezas espirituais que necessitam ser destruídas. A Palavra de Deus é a dinamite usada pelo Espírito Santo para derrubar tais fortalezas. Paulo declara que “as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas. Derrubamos raciocínios e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co. 10:4-5).
Muito daquilo que recebemos da tradição religiosa dos nossos pais constitui-se em verdadeiras fortalezas contra o conhecimento de Deus. Muitos dizem: Mas foi assim que eu aprendi, e não estou disposto a abrir mão disso! Quem pensa assim não está apto a ser discípulo de Jesus.
Jamais podemos ouvir a Palavra de Deus com um espírito armado. Temos que recebê-la com mansidão. Qualquer raciocínio que se levantar contra a Palavra deve ser levado cativo à obediência de Cristo.
Tiago também nos admoesta, dizendo:

“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
Tiago 1:22.

Isto é o que significa permanecer na Palavra. Ouvir é bom demais, porém, cumprir é melhor ainda. Qualquer que ouve, mas não cumpre, Jesus o compara ao homem que constrói sua casa sobre a areia; logo que vem o vento, a chuva, sua casa cai. Mas aquele que ouve e cumpre a Palavra de Deus é como o homem que constrói sua casa sobre bases firmes. Pode vir a tempestade que ele não se atemorizará, pois sua casa foi edificada sobre a rocha !

Além de firmar-se na Palavra, o discípulo precisa cultivar uma vida de oração. Aliás, uma coisa está estreitamente ligada a outra. Se a Palavra está em nós, ele deseja ser expressada. Quando oramos, temos a oportunidade de expressar diante de Deus aquilo que a Sua Palavra imprimiu em nós. Através da oração, a Palavra proferida pela boca de Deus ecoa em nossos lábios. Desta forma, demonstramos que estamos em perfeita sintonia com a vontade revelada por Deus. Fica patente que, de fato, a Palavra está em nós, e nós estamos nela. João diz que se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos fará (1 Jo.5:14). E onde é que a vontade de Deus está revelada? Na Palavra, é claro. Jesus diz que se a Palavra estiver em nós, podemos pedir o que quisermos, que Ele nos atende.

A Palavra nos aponta os parâmetros para que saibamos pedir como convém. Desta forma, nossa comunhão com Deus se torna estreita e íntima. Além de Seus discípulos, tornamo-nos também Seus amigos ( Jo.15:15).

· O AMOR


A segunda característica pela qual se destingue o verdadeiro discípulo é o amor.
Jesus disse:

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.”
João 13:35

Esta é, sem dúvida, a principal marca de um discípulo de Cristo.
Não estamos falando de um amor carnal, ou de amor só de palavras, mas do verdadeiro amor. O Apóstolo João recomenda:

“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E DEVEMOS DAR A NOSSA VIDA PELOS IRMÃOS. Quem tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, cerrar-lhe o coração, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. Nisto conheceremos que somos da verdade”
I João 3:16-19a

Não somos reconhecidos pelos dons que temos, ou pela roupa que usamos, ou pelo uso de jargões e chavões religiosos; somos reconhecidos pelo amor que dispensamos uns aos outros.


· Conhecimento X Amor

Ainda que tenhamos um profundo conhecimento da Palavra, se não tivermos amor, todo o conhecimento que tivermos será vão. Paulo afirma que o conhecimento incha, mas o amor edifica (1 Co.8:1). Conhecimento sem amor só serve para manter o homem preso por seu próprio orgulho e vaidade.
Quem ama deseja estar sempre ao lado da pessoa amada. Quem ama, não evita. Portanto, o verdadeiro discípulo deseja estar sempre à companhia de outros discípulos. Não há amor onde não há comunhão, companheirismo e afeto.
O escritor sagrado nos exorta, dizendo:

“Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns”.
Hebreus 10:24-25a.

Portanto, deixemos de lado o amor retórico, e comecemos a amar de fato e de verdade, estimulando-nos e considerando-nos mutuamente.