quinta-feira, dezembro 07, 2006

6 - Um Novo Mandamento

Estamos entrando na parte prática de nosso discipulado. A pergunta é: Como devemos lidar com as questões práticas do nosso cotidiano? Áreas como os relacionamentos familiares, conduta profissional, submissão às autoridades constituídas, amizades e muitas outras estarão sendo tratadas nesta nova fase de nosso estudo.
Não podemos nos esquecer de que agora somos novas criaturas, cidadãos do Reino de Deus, e que não devemos mais andar como antes.
Em sua epístola aos Efésios, Paulo entra no aspecto prático da vida cristã dizendo:

“Não andeis mais como andam os outros gentios, na vaidade do seu pensamento, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração”.
Efésios 4:17-19.

E como andam os outros gentios? Na vaidade do seu pensamento. A vida de quem não conhece a Deus é centrada em seu próprio “eu”. Paulo diz que o “deus” deles é o seu ventre (Fp.3:19). Em outras palavras, eles estão voltados para o seu próprio umbigo. “Os tais” afirma o apóstolo, “não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre” (Rm.16:18). Por isso, sua conduta é ditada pela sua própria vaidade.
Pessoas assim se justificam do erro que cometem dizendo: - Eu me sinto bem, assim. Não quero mudar. Eu só quero é ser feliz e me sentir bem comigo mesmo.
Porém nós, ao nos convertermos a Cristo, convertemo-nos também ao nosso próximo, de forma que nossa conduta é ditada por aquilo que vai ou não agradar a Deus, ou ferir o nosso próximo. Entendemos que Cristo morreu por nós, para que não vivamos mais para nós mesmos (2 Co.5:15).
Quem realmente deseja tornar-se discípulo de Jesus, precisa experimentar a morte do seu ego. Se isso não acontecer, ele jamais vai compreender o novo mandamento de nosso Senhor Jesus Cristo.

· O NOVO MANDAMENTO

Na Antiga Aliança, o mandamento de Deus acerca do amor que deveríamos dispensar ao nosso próximo era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19:18).
Para que o ser humano compreendesse o que era amor, Deus estabeleceu como parâmetro o “amor próprio”, isto é, o amor que cada pessoa tem por si mesma. Se alguém perguntasse: Como devo amar ao meu próximo? Deus responderia: Como você ama si mesmo.
Depois da Queda, o homem encheu-se de amor próprio, fruto do seu orgulho, e da quebra de sua comunhão com Deus. O homem morreu espiritualmente. Nesse estado, ele não tinha condição sequer de amar a Deus, quanto mais ao seu próximo. Então, por que Deus exigiu do homem algo que ele não poderia fazer? Para que o homem aprendesse a depender da graça e da misericórdia divinas. Através da Lei, Deus quis mostrar ao homem a sua total inabilidade em alcançar o grau de retidão exigido por Deus, para que sua comunhão com Ele fosse reatada. Entretanto, Deus prometeu que um dia isso mudaria, quando o Seu Espírito fosse derramado sobre o homem, possibilitando-o de cumprir os Seus mandamentos. Ele disse:

“O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração dos teus descendentes, a fim de ames ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda alma, para que vivas.”
DEUTERONÔMIO 30:6.

Como até aquele momento, a maior referência de amor de que dis-punha era o amor próprio, Deus o utilizou como parâmetro, para que o homem pudesse ter uma vaga idéia do que era o amor.
Quando Jesus veio a este mundo, Ele nos revelou a vontade de Deus de forma muito clara ao estabelecer um Novo Mandamento.
Primeiro, Ele afirmou que “quem ama a sua vida, perdê-la-á, mas quem odeia a sua vida neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo.12:25). Esse foi o primeiro golpe diferido por Jesus no amor próprio. A partir daí, os discípulos já puderam compreender que o que Deus queria não era que eles amassem os outros como a si mesmos, pelo simples motivo de que, eles já não deveriam amar a sua própria vida. E agora? Que tipo de amor eles deveriam dispensar ao seu semelhante? Afinal, até aquele momento, eles não conheciam nenhum outro tipo de amor, senão aquele.
Após ter lavado os pés dos Seus discípulos, Jesus lhes disse:

“Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei a vós, assim também deveis amar uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
JOÃO 13:34-35.

Antes de proferir estas palavras, Jesus deu uma pequena demonstração do que era o Seu amor. Ele não estava preocupado com o que as pessoas iriam pensar d’Ele, vendo-O ajoelhado perante os Seus subalternos, lavando os seus pés. Sua preocupação era revelar-lhes o mais profundo sentido do Amor. A partir da Nova Aliança, o amor próprio já não nos serve de parâmetro do amor que devemos dispensar aos outros. O novo parâmetro é o amor de Deus por nós. Devemos amar ao semelhante assim como Ele nos amou.
Alguém poderá relutar: - Mas se nós não temos sequer condição de amar ao próximo como a nós mesmos, quanto mais amá-lo como Deus nos amou! Realmente, não temos condição de amar como Deus nos amou. É por isso que temos que experimentar a morte do “eu”, para que, então, Cristo possa viver Sua vida através de nós, amando, perdoando e aceitando as pessoas de uma maneira como nós jamais conseguiríamos fazê-lo.
O apóstolo Paulo chegou à conclusão que era simplesmente impossível alcançar o nível de retidão e santidade exigido por Deus. Foi então que ele descobriu que só havia uma saída. Ele a expressou da seguinte maneira:

“Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” GÁLATAS 2:20.

Que descoberta tremenda! Enquanto as pessoas teimarem em tentar alcançar esse nível de amor por esforços próprios, elas se frustrarão. É importante que o homem admita a sua incapacidade, e reconheça que o seu velho “eu” não merece outra punição senão a cruz. A conclusão de Paulo é que se Cristo “morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (2 Co.5:14-15).
Quando reconhecemos “que o nosso velho homem foi com ele crucificado”, e passamos a nos considera como mortos para o pecado, a vida de Cristo passa a fluir através de nós (Rm.6:6,11). Desta maneira, passamos a amar como Ele amou. Já não vivemos para nós mesmos. Nosso “deus” não é mais o nosso ventre. Tudo o que fizermos, a partir daí, terá como propósito a glória de Deus, e o bem-estar de nosso semelhante.
É na morte do “eu” que experimentamos a verdadeira vida abundante. João afirma que o meio pelo qual sabemos que já passamos da morte para vida é o fato de amarmos os irmãos. “Quem não ama” adverte o apóstolo, “permanece na morte (...) Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1 Jo.3:14,16).
O quê? Dar vida pelos irmãos? Será que Deus está nos convidando ao martírio? É claro que não! Dar a vida pelos irmãos é viver em função do seu próximo, e não em função do seu próprio bem-estar.
Foi assim que Cristo agiu. Ele não pensou em Si mesmo em momento algum. Antes, Ele dispôs-Se a morrer por nós; não por merecermos Seu amor, e sim, porque Ele mesmo é amor.
A Bíblia diz que deve haver em nós o mesmo sentimento que houve em Cristo (Fp.2:5). Se tivermos que morrer por alguém, não nos negaremos a fazê-lo. É este tipo de amor que nos faz vencer a contínua oposição de Satanás. Em Apocalipse 12:11 lemos que nós o vencemos por causa de três fatores:
Primeiro - Por causa do sangue do Cordeiro. Isto é, o fato de haver Cristo nos amado a ponto de dar Sua vida por nós, torna-nos mais que vencedores. Paulo disse que nós somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou (Rm.8: 37).
Segundo - Nós vencemos o diabo por causa da palavra do nosso testemunho. Quando confessamos Jesus como nosso Senhor e Salvador, esse testemunho nos faz imunes às acusações de Satanás.
Terceiro - Nós o vencemos por não amarmos a nossa vida até a morte! O fato de termos a disposição de morrermos por nosso Senhor, e pelo nosso semelhante nos coloca em vantagem contra o diabo. Enquanto ele encontrar em nós algum resquício de amor próprio, ele terá um ponto de apoio para atuar em nossa vida. O amor próprio constitui-se a base de operação para o adversário. Quando nos consideramos mortos, e vivemos em função do reino de Deus, as fortalezas usadas pelo inimigo são dinamitadas, e em seu lugar, é erigido um altar de adoração a Deus.
É bom frisar que a obediência ao Novo Mandamento de Jesus não depende de nosso esforço pessoal. É Cristo habitando em nós pelo Seu Espírito que produz em nós esse nível de amor. Paulo diz que “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm.5:5). Portanto, não se trata de um produto humano, mas divino. Antes de partir deste mundo, Jesus orou ao Pai, pedindo para que o amor com que o Pai O amou estivesse em Seus discípulos, através de Sua presença neles (Jo.17:26).

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