quarta-feira, dezembro 27, 2006

7 - A Prática do Amor

Não é difícil dizer que se ama alguém mais do que a própria vida. Difícil é demonstrar esse amor de forma prática.
Em sua primeira epístola, João, conhecido como apóstolo do amor, nos aconselha:

“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”
I JOÃO 3:18.

O amor que Deus tem derramado em nosso coração, não deve ser ocultado. Este amor precisa ser expressado, e não só com palavras, mas também com atitudes. Qualquer sentimento que não nos leve à ação, pode ser chamado de tudo, menos de amor. O amor não é retórico, é prático.
Logo após ter dito que devemos dar a vida pelos irmãos, João nos oferece um exemplo do que seja isso. Ele diz: “Quem tiver bens no mundo e, vendo o seu irmão necessitado, cerrar-lhe o seu coração, como estará nele o amor de Deus?” (v.17). Tiago faz semelhante comentário, ao perguntar: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz; aquentai-vos e fartai-vos, mas não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” (Tg.2:15-16).
Quem ama se dá. Quem ama se expõe. Quem ama age em favor da pessoa amada. Jesus diz que “Deus amou o mundo de tal maneira que DEU o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16).
O amor que temos pelos irmãos é o eco do amor de Deus por nós. Ele nos amou a ponto de Se dar por nós; nós devemos amar a ponto de nos dar por eles.
Escrevendo aos Coríntios, Paulo dá testemunho do amor que os Macedônios demonstraram a ele, e aos seus companheiros. Ele testifica: “E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus” (2 Co.8:5).
De acordo com o testemunho do apóstolo, as igrejas da Macedônia estavam em aperto, passando por uma dura tribulação. Porém isso não as impediu de demonstrar o seu amor pela causa do mestre, enviando ofertas para o ministério de Paulo e para os cristãos de Jerusalém que estavam em maior aperto que eles. Isso sim é amor! Amor que dá ao invés de reter. Amor que se expõe ao invés de escusar-se. Amor que visa o bem de outrem, ao invés de visar o seu próprio bem.

· Amor Real versus Pseudo-amor

O amor próprio às vezes se camufla tão bem, que se faz passar por amor cristão. É preciso que estejamos atentos a isso.
O amor próprio pode produzir obras tais que venham iludir-nos. Por exemplo: Paulo diz em seu famoso capítulo 13 de 1 Coríntios, que é possível manifestar “dons espirituais” sem com isso ter amor. A carne é capaz de imitar muitas manifestações espirituais. Falar em línguas, por exemplo, não é o verdadeiro sinal de que alguém tenha recebido o Espírito Santo. O sinal real que comprova a presença do Espírito Santo em alguém é o amor. Se não houver amor, as línguas não vão passar de barulho. Nada mais serão do que palavras desconexas, fluindo “como o metal que soa, ou como o sino que tine” (v.1). Profetizar, conhecer os mistérios, aprofundar-se na ciência, tudo isso é acessório. O essencial é o amor ! Profecia sem amor não cumpre o seu papel, pois só exorta, mas não edifica, não consola. Tudo que o profeta quer é ser visto, ser notado. O outro é apenas o ouvinte. O profeta sim é que o “importante” ! Ele é o portador da mensagem divina! Isso tudo é vaidade! Quando há amor, o profeta entende que ele é apenas veículo de Deus, que visa o bem do outro. Conhecer os mistérios sem amor não passa de gnosticismo. Quando somos movidos pelo amor, queremos conhecer os mistérios para compartilhá-los, e não para deleitar-nos, ou sentir-nos superiores aos demais.
E o que dizer da fé? E se tivermos toda a fé do mundo, a ponto de transportarmos os montes? Paulo diz que se não tivéssemos amor, nada sería-mos. Isso quer dizer que fé sem amor não é nada. É puro sensacionalismo ! É truque. Ou talvez, força da mente. O que importa” diz Paulo, “é a fé que opera pelo amor” (Gl.5:6). O que passar disso é exibicionismo.


· FILANTROPIA SEM AMOR

Paulo vai mais longe ainda. Ele desmascara o amor próprio que se faz passar por amor verdadeiro. Ele diz que é possível que o indivíduo distribua toda a sua fortuna para os pobres sem ser movido pelo amor. Nós estamos cansados de ver isso na época de política. Muita gente sai por aí distribuindo comida, roupa, e até dinheiro, apenas para se promover. Isso não é amor, é marketing ! Amor é uma coisa, auto-promoção é outra totalmente diferente. Tanto é verdade que, o nome de tais indivíduos sempre vai estampado nos caminhões, nas camisetas e etc. A verdadeira filantropia é aquela que Jesus apresenta, quando diz: “Guardai-vos de praticar vossos atos de justiça diante dos homens, para serdes vistos por eles. Se o fizerdes, não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Portanto, quando deres esmolas, não façais tocar trombeta diante de ti, como os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas quando tu deres esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada secretamente. Então teu Pai, que vêm em secreto, te recompensará” (Mt.6:1-4).

· MÁRTIR ou HERÓI ?

Paulo também diz que é possível entregar-se para ser queimado como um mártir sem ser movido por amor. Infelizmente há pessoas que amam mais o seu nome do que a sua própria vida. Isso também é uma variação do amor próprio. Por isso, desejosos de terem seus nomes na história, são capazes de atos heróicos, como morrer por uma causa. As páginas dos livros de História estão cheia de exemplos disso. O verdadeiro mártir é aquele que morrer por amor ao seu semelhante, ou por amor à causa do Mestre, e não em função de uma posição política, ou ideológica. Uns dizem: - Morro, mas não abro mão das minhas idéias, dos meus sonhos. Isso também não passa de amor próprio. O verdadeiro mártir é aquele que morre desejando a salvação dos seus semelhantes. Até na hora da morte, seu foco está direcionado em seus semelhantes. Um exemplo clássico disso foi a morte de Estêvão. Enquanto estava sendo apedrejado, “pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu” (At.7:60). Com o coração tomado pelo amor de Deus, podemos afirmar que na hora de sua morte, houve em Estêvão o mesmo sentimento que houve em Cristo. Foi em Jesus que Estêvão inspirou-se para fazer aquela oração. Do alto da cruz, esvaindo-Se em sangue, Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc.23:34). Isso é que é amor ! Amor de verdade é aquele que perdoa. Amor real é aquele que nos faz esquecer de nosso próprio sofrimento, para preocupar-nos com o sofrimento alheio.

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