quarta-feira, dezembro 27, 2006

15 - Ofertas

O Dízimo é o piso e não o teto das contribuições; é o ponta-pé inicial, o ponto de partida. Entretanto, nossa justiça deve exceder à dos fariseus, que davam o dízimo das mínimas coisas, mas paravam por aí. Devemos ir além do dízimo. Devemos ser ofertantes generosos.
Se o Dízimo expressa nossa fidelidade, a oferta expressa nossa generosidade. E a promessa de Deus é que “a alma generosa, esta prosperará” (Pv.11:25).
Há vários tipos de ofertas que devem ser praticadas por aqueles que buscam o Reino de Deus e a sua justiça.

· Ofertas Voluntárias

Há a oferta voluntária, que damos de acordo com nossas possibilidades, mas sem qualquer planejamento. Simplesmente nos sentimos tocados, e expontaneamente abrimos o coração para dar. Davi orou, dizendo:

“Bem sei eu, meu Deus, que tu sondas os corações, e que te agradas da integridade. Eu também na integridade de meu coração voluntariamente dei todas estas coisas. E agora vi com alegria que o teu povo que se acha aqui, ofereceu voluntariamente. Senhor, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e estes pensamentos, e encaminha o seu coração para ti”.
1 Crônicas 29:17-18

A oferta voluntária tem como objetivo manifestar a integridade de nosso coração. Como disse Jesus, onde estiver nosso tesouro, ali estará nosso coração. Deve haver sempre em nós a disposição para dar espontaneamente, sem que haja a necessidade de qualquer pressão ou propósito especial, senão o de honrar a Deus.

· Votos

Há também aquelas ofertas revestidas de propósito, também chamadas de votos. Um voto é uma oferta especial em que o ofertante se compromete com Deus e a Sua obra.

“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo”. Salmos 116:12-14

Quando fazemos um voto, estamos demonstrando que nossa expectativa está inteiramente em Deus, e não em nossos próprios recursos. Nos convertemos dos recursos materiais a Deus. Colocamo-nos totalmente na dependência do Senhor Todo-poderoso.

“Se te converteres ao Todo-poderoso, serás restaurado: Se afastares a iniqüidade da tua tenda, e deitares o teu ouro no pó, o teu ouro de Ofir entre as pedras dos ribeiros, então o Todo-poderoso te será por ouro, e por prata escolhida. Certamente então te deleitarás no Todo-poderoso, e levantarás o teu rosto para Deus. Orarás a ele, e ele te ouvirá, e pagarás os teus votos. Determinando tu algum negócio, ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus caminhos”. Jó 22:23-28

Temos que “deitar nosso ouro no pó”, e “levantar nosso rosto para Deus”. Ele é o nosso ouro, nossa única riqueza. É d’Ele que virá todos os recursos de que necessitamos para levar avante nossos projetos.
Diferente da oferta voluntária que é dada espontaneamente, quem faz um voto, deve pagá-lo, pois assumiu um compromisso com Deus.

“Fazei votos, e pagai-os ao Senhor, vosso Deus; tragam presentes, os que estão ao redor dele, àquele que é tremendo”. Salmos 76:11

Ficamos sob os votos que fazemos. O Rei Davi declarou: “Estou sob os votos que fiz, ó Deus; eu te oferecerei ações de graça” (Sl.56:12).
Por isso, o voto deve ser feito de maneira consciente. Salomão, sabiamente, nos aconselha: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo. Ele não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues” (Ec.5:4-5). E mais: “Laço é para o homem o dizer precipitadamente: É santo, e só refletir depois de fazer o voto” (Pv.20:25).
Às vezes, na hora da angústia, as pessoas fazem votos, e depois se esquecem de cumprí-los. Mesmo Davi, homem segundo o coração de Deus, não estava desobrigado a cumprir seus votos: “Te pagarei os meus votos; votos que haviam pronunciado os meus lábios, e dito a minha boca, quando eu estava na angústia” (Sl.66:13b-14).

· Ofertas Alçadas

A mesma passagem que fala do dízimo, também fala da oferta alçada, conferindo-lhe o mesmo peso. Só para relembrar: “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais, vós, a nação toda” (Ml. 3:8-9).
E o que é “oferta alçada”? É uma oferta cujo valor é maior do que o dízimo. É, por assim dizer, a melhor parte daquilo que recebemos: “De todas as vossas dádivas oferecereis toda a oferta alçada do Senhor; de tudo o melhor deles, a sua santa parte” (Nm. 18:29).
Dízimo e oferta alçada são os dois elementos que compõem nossas primícias. Ezequiel profetizou acerca do Novo Israel, que é a Igreja de Cristo:

“Pois no meu santo monte, no monte alto de Israel, diz o Senhor Deus, ali me servirá toda a casa de Israel, toda ela naquela terra. Ali me deleitarei neles, e ali demandarei as vossas ofertas alçadas, e as primícias das vossas dádivas, com todas as vossas coisas santas. Com cheiro suave me deleitarei em vós, quando eu vos tirar dentre os povos e vos congregar das terras em que andais espalhados, e serei santificado em vós ante os olhos das nações.” Ezequiel 20:40-41

Enquanto o Dízimo deve ser entregue periodicamente, isso é, com a mesma freqüência com que recebemos, a oferta alçada pode ser entregue esporadicamente. Há pessoas que entregam a oferta alçada, toda vez que entregam o dízimo. Mas há outras que a entregam algumas vezes durante o ano. Nossa sugestão é que a oferta alçada seja dada pelo menos uma vez no ano. Se possível, no primeiro mês, para que seja caracterizada como primícias, isto é, como os primeiros frutos do ano.
E aonde devem ser levados nossos dízimos e nossas ofertas ao Senhor?

“Buscareis o lugar que o Senhor vosso Deus escolher entre todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e a sua habitação. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas (...) Dentro das tuas portas não poderás comer o dízimo do teu grão, nem do teu mosto, nem do teu azeite, nem os primogênitos das tuas vacas, nem das tuas ovelhas; nem nenhum dos teus votos, que houveres prometido, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão.” Deuteronômio 12:6,17

Na Nova Aliança, o lugar escolhido por Deus para fazer habitar o Seu nome para sempre é a Sua Igreja. É a ela que devemos trazer nossos dízimos e ofertas. Não devemos tocar no que é de Deus, mas sermos fiéis Àquele que nos confiou o Seu Nome e a Sua Palavra.

14 - As Primícias do Senhor

Já vimos que todas as coisas pertencem a Deus, e que somos apenas mordomos, isto é, administradores das obras de Suas mãos. Ele não apenas nos confia o cuidado de tais coisas, mas também nos dá o direito de desfrutá-las.
Para que demonstrássemos nosso reconhecimento de que tudo pertence a Ele, Deus instituiu o princípio das primícias.
O termo “primícias” significa “primeiros frutos”, e era empregado originalmente para designar os frutos iniciais de uma colheita.
Veja o que diz o mandamento:

“Quando tiveres entrado na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, e a possuíres, e nela habitares, tomarás das PRIMÍCIAS de todos os frutos do solo, que colheres da terra que o Senhor teu Deus te dá, e as porás num cesto, e irás ao lugar que o Senhor teu DEUS escolher para ali fazer habitar o seu nome. Apresentar-te-ás ao sacerdote em exercício, e lhe dirás: Hoje declaro perante o Senhor teu Deus que entrei na terra que o Senhor prometeu a nossos pais que nos daria. O sacerdote receberá o cesto da tua mão, e o porá diante do altar do Senhor teu Deus.” Deuteronômio 26:1-4

Antes de desfrutar de sua colheita, o trabalhador deveria dedicar os primeiros frutos a Deus. Esta era a forma de reconhecer que Ele, e não apenas os esforços pessoais, foi quem garantiu o sucesso da colheita.
Esse princípio é claramente esboçado em Deuteronômio 8:17-18:

“Não digas no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me proporcionaram esta riqueza. Antes te lembrarás de que o Senhor teu Deus é que te dá força para adquirires riquezas, confirmando a aliança que jurou a teus pais, como hoje se vê.”

É a este mesmo princípio que Jesus Se refere, ao declarar: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo.15:5b).
Jamais podemos nos estribar em nossos esforços pessoais, achando que foram eles que nos proporcionaram qualquer bem. Se Ele não abrir uma porta, onde encontraremos oportunidade de trabalho? Se Ele não nos fizer cair na graça de nosso empregador, como alcançaremos a tão desejada promoção? Se Ele não nos der aptidões profissionais, como prosperaremos em nosso ramo de atividade? Portanto, Ele é que nos dá força para adquirirmos riquezas. Por isso, devemos colocá-Lo sempre em primeiro lugar. Foi isso que Jesus afirmou, ao declarar: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mt.6:33).
Este é o princípio por trás do mandamento das primícias.
Talvez alguém argumente, dizendo que tal mandamento só faria sentido em uma sociedade agrícola, onde as pessoas vivessem da colheita. Entretanto, tal ordenança se aplica em qualquer sociedade. De tudo aquilo que Deus faz chegar às nossas mãos, devemos separar as primícias, e entregá-las na Casa de Deus. E há uma maravilhosa promessa para aqueles que dedicam suas primícias ao Senhor:

“Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; então se encherão os teus celeiros abundantemente e transbordarão de vinho os teus lagares.” Provérbios 3:9-10

* O que é o Dízimo?

É a décima parte daquilo que recebemos, e compõe parte das primícias que devemos dedicar a Deus.
As Escrituras são claras quanto ao nosso dever de entregar os dízimos na Casa de Deus.

“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança”. Malaquias 3:10

O Dízimo não apenas expressa nosso reconhecimento da Soberania de Deus em nossas vidas, mas também provê sustento para Sua Casa.
De acordo com a Palavra de Deus, sonegar os dízimos é o mesmo que roubar de Deus, ou privá-lO de algo que Lhe é de direito:

“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais, vós, a nação toda”. Malaquias 3:8-9

Assim como pagamos nossos impostos ao Estado, como cidadãos do Reino de Deus, devemos entregar fielmente nossos dízimos. Foi Jesus quem ordenou: “Dai a César, o que é de César, e a Deus, o que é de Deus” (Mt.22:21).
O dízimo não é pagamento, nem doação. O dízimo é uma devolução. Na verdade, a Deus pertence 100% do que temos. Mas Ele nos dá o direito de usufruir de 90%, devolvendo-Lhe apenas 10%.
Toda vez que entregamos o dízimo, devemos ter o mesmo espírito que houve em Davi, ao oferecer a Deus o que o povo de Israel entregava para a construção do Templo em Jerusalém:

“Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade, pois teu é tudo o que há nos céus e na terra. Teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos como chefe. Riquezas e glória vêm de ti; tu dominas sobre tudo. Nas tuas mãos há força e poder para engrandecer e dar força a tudo (...) Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Tudo vem de ti, e somente devolvemos o que veio das tuas mãos”. I Crônicas 29:11-12,14

Lembre-se que todas as coisas são d’Ele, por Ele e para Ele. Ele tem depositado grande confiança em nós, ao permitir que administremos Sua obra. Não podemos trair Sua confiança.
Paulo diz que “requer-se dos despenseiros (mordomos) que cada um se ache fiel” (1 Co.4:2).
E a promessa de Jesus é que os forem fiéis no pouco, sobre o muito serão colocados.
Devemos entragar o dízimo de tudo, como fez Abraão (Gn.14:20b). Tanto das pequenas coisas, como das grandes.
Jesus disse que os fariseus de Seu tempo, davam o dízimo até dos temperos usados na comida, como hortelã, endro e cominho. Mas infelizmente, eles eram fiéis nos dízimos, mas negligenciavam outras coisas importantes, como a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus os advertiu, dizendo: “Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas”(Mt.23:23). De fato, na questãos dos dízimos, eles eram extremamente zelosos. E Jesus nos adverte: “Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt.5:20). Portanto, não podemos ser menos zelosos do que eles.
O Dízimo foi instituído por Deus antes da Lei, e deve ser observado ainda hoje, pelos que vivem sob a Nova Aliança. Na Antiga Aliança, sob a Lei, os dízimos eram recebidos por sacerdotes mortais, mas agora, sob a Aliança da Graça, “os recebe aquele de quem se testifica que vive” (Hb.7:8), isto é, Jesus Cristo, nosso Sumo-Sacerdote.

13 - O Dono do Mundo

As relações comerciais existem desde que os seres humanos começaram a partilhar seus pertences. Tais relações se davam, inicialmente, à base de trocas. Se alguém dispunha de grãos, enquanto seu vizinho dispunha de carne, trocava-se alguns punhados de grão, por um pedaço de carne.
Mais tarde, surgiria a moeda, que aos poucos, passaria a ser largamente usada na aquisição de bens.
No início, as pessoas trabalhavam para si mesmas. Caçavam, pescavam, cultivavam a terra, e produziam suas próprias vestimentas. Mas com o tempo, as pessoas se ofereceriam para trabalhar para outras, por comida, por estadia, e mais tarde, por dinheiro. Surgia, então, a remuneração.
Encontramos nas Escrituras casos como o de Esaú, que trocou sua primogenitura por um prato de lentilhas.
Depois encontramos Jacó, que trabalhou de graça por 14 anos para seu tio Labão em troca de Raquel, com quem desejava se casar.
Tais relações comerciais são permitidas por Deus, tendo em vista o fato de que ninguém é auto-suficiente. Todos precisamos uns dos outros. O que um produz, alimenta a outros. O trabalho de um, beneficia a outros, e assim por diante.
Porém, acima de tudo, dependemos de Deus.
Afinal, não podemos nos esquecer que a Terra, e tudo quanto ela produz, pertence a Deus, embora tenha sido confiada aos cuidados do homem.
Leia atentamente o que diz a Bíblia acerca disso:

“Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam”.
Salmos 24:1

Não há um único centímetro quadrado deste mundo de que o Senhor não diga: É meu!
Não só as coisas, como também as pessoas deste mundo pertencem a Ele. Até mesmo os animais:

“Pois meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de colinas. Conheço todas as aves dos montes, e é meu tudo o que se move no campo”.
Salmos 50:10-11

Nem o reino mineral escapa desta verdade:

“Minha é a prata, e meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos”.
Ageu 2:8

Diante de tais afirmações, concluímos que nada que tenhamos é realmente nosso. Todas as coisas pertencem a Deus. Não somos donos de coisa alguma, nem mesmo dos nossos filhos.

“Pois todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha”.
Ezequiel 18:4a

Somos apenas mordomos, administradores daquilo que pertence ao Criador. Podemos até desfrutar das coisas deste mundo, mas jamais estabelecer uma relação de posse com elas. Por isso Paulo diz que “os que compram” deveriam se portar “como se nada possuíssem”, e “os que usam deste mundo, como se dele não abusassem” (1 Co.7:30b-31a).
Aquilo que dizemos possuir, nada verdade, nos possui, pois toda relação de posse é recíproca.
O único bem permanente que possuímos é o nosso Deus. Por isso o salmista dizia: “Não tenho outro bem além de Ti” (Sl.16:2b).
Entre nós e Deus há uma relação de posse recíproca. Podemos declarar como Sulamita: “O meu amado é meu, e eu sou dele” (Cant.2:16a). E o próprio Deus é quem afirma: “Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Co.6:16b).
Quando estabelecemos uma relação de posse com alguma coisa, fazemos daquilo nosso tesouro. E de acordo com Jesus, “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt.6:21).
É aí que mora o problema!
Não há nada de errado em ser próspero. Entretanto, corremos sérios riscos quando nos deixamos seduzir pelas riquezas deste mundo.
Foi reconhecendo isso que o sábio Salomão orou:

“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que me é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus”.
Provérbios 30:8-9

Devemos desejar ser prósperos, não ricos. E se, eventualmente, nos tornarmos ricos, devemos atentar para o conselho de Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundandemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” ( 1 Tm.6:17).
Repare bem: Deus nos dá abundantemente todas as coisas. E pra quê? Para delas gozarmos, desfrutarmos. Mas não pra que as possuamos. Desfrutar é uma coisa, possuir é outra totalmente diferente.
O salmista nos exorta: “Ainda que vossas riquezas aumentem, não ponhais nelas o coração” (Sl.62:10b).
Afinal, “nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele” (1 Tm.6:7). “Como saiu do ventre da sua mãe, assim nu voltará, indo-se com veio. Nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão” (Ec.5:15). Tudo neste mundo é passageiro, efêmero. Não vale a pena colocar o coração em tesouros que acabam corroídos pela ferrugem, ou comidas pelas traças.
E o pior de tudo isso é que “os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm.6:9-10).
A diferença entre ser próspero e ser rico está no foco. Segundo os princípios do Reino de Deus, o próspero é aquele que se torna canal de bênçãos para outros. É aquele que entende que “o proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. O que ama o dinheiro nunca se fartará dele; quem ama a abundância nunca se farta da renda. Isto também é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem” (Ec. 5:9-11).
O apóstolo João, escrevendo a Gaio, declarou: “Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” (3 Jo.2).
O salmista declara que o Senhor se deleita na prosperidade do seu servo (Sl.35:27). Portanto, não há errado em querer ser próspero.
Já o “rico” é aquele que faz da riqueza um fim em si mesma, colocando nela a sua esperança. A estes, o Espírito Santo adverte: “Fitarás os olhos naquilo que não é nada? Porque certamente isso fará para si asas, e voará ao céu como a águia” (Pv.23:5).
A riqueza é circunstancial, já a prosperidade é um estado de espírito. Pode-se ser próspero, sem jamais ser rico aos olhos do mundo. O rico só pensa em si mesmo, e em como acumular cada vez mais riquezas ao seu tesouro particular. Já o próspero está mais preocupado em utilizar sua prosperidade para fazer o bem. Mesmo desfrutando dela, sua prioridade é torná-la uma bênção para outros. As Escrituras afirmam: “Sei que não há coisa melhor para eles do que se alegrarem e fazerem o bem na sua vida, e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus” (Ec.3:12-13).
No conselho que Paulo dá aos “ricos deste mundo”, ele acrescenta: “Que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm.6:18).
O Criador nos deu o direito de comer do bem desta Terra (Is.1:19). E também nos ordenou que vivéssemos do suor do nosso rosto (Gn.3:19). O trabalho, portanto, é o meio estabelecido por Deus, para que prosperemos, e assim, possamos ser bênção para nossa família, e para nossos semelhantes. Paulo diz que todo filho de Deus deve trabalhar, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (Ef. 4:28b).
Trabalhar, desfrutar, repartir. Este é o tripé sobre o qual repousa a prosperidade do justo.
Já os que querem ficar ricos, edificam suas vidas sobre outro tripé: trabalhar, acumular, desfrutar.
Seria bom que eles lessem a parábola de Lázaro, e desde já, colocassem suas barbas de molho.

12 - Mordomia Cristã

O mordomo é alguém que recebeu a responsabilidade de cuidar daquilo que pertence ao seu senhor. Embora não seja o dono, cabe ao mordomo zelar pelos bens que lhe foram confiados, como se fora seus.
Todas as coisas pertencem a Deus, e foram criadas “por Ele e para Ele”. Portanto, Ele é a razão da existência de tudo quanto há no universo, seja de ordem espiritual ou material.
Coube ao homem a incumbência de cuidar das obras das mãos de Deus. O salmista Davi escreve:

“Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés.” Salmos 8:6.

Ao criar o homem, Deus outorgou-lhe autoridade sobre toda a criação. A ordem de Deus era: “enchei a terra, e sujeitai-a. Dominai...” (Gn. 1:28).
Esta autoridade veio acompanhada por uma grande responsabilidade. Recebendo o mandado de dominar, o homem também recebia a incumbência de “lavrar e guardar” a terra (Gn.2:15), sem jamais perder de vista que “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl.24:1). O próprio Deus é quem declara: “Meu é o mundo e tudo o que nele há” (Sl.50:12b). Portanto, o homem não é dono de coisa alguma. Somos mordomos de Deus, sobre os quais repousa a responsabilidade de cuidar da criação.
Podemos compreender melhor esta verdade através de uma das mais famosas parábolas de Jesus. Trata-se da parábola dos talentos, onde o reino dos céus é apresentado como “um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade. Então partiu(...) Muito tempo depois veio o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles” (Mt.25:14-15, 19). Tudo aquilo de que dispomos nesta vida pertence a Deus, embora esteja sob os nossos cuidados. Nossos filhos, nosso cônjuge, nossos bens, nosso corpo; tudo é de Deus!
São verdadeiros talentos que Deus nos confiou. Um dia, porém, Ele nos pedirá conta daquilo que fizemos com todos esses talentos. A forma como os talentos são distribuídos não compete a nós julgarmos. Deus tem os Seus próprios critérios. A uns Ele dá cinco talentos, a outros dois, e a alguns apenas um. O importante é a forma como vamos administrá-los. Tanto podemos multiplicá-los, como podemos até perdê-los. De acordo com o texto sagrado, aquele senhor distribuiu os talentos de acordo com a capacidade que cada um tinha de administrá-los. O que recebera cinco, fê-los multiplicar por dois, e alcançou mais cinco. O que ganhara dois, também os multiplicou. Porém, o que tinha apenas um, acabou perdendo-o.
O mesmo Deus que nos deu talentos, deu-nos também capacidade para geri-los e multiplicá-los. Entretanto, se formos negligentes com o que Deus nos confiou, poremos tudo a perder!
Na parábola dos talentos, os servos que receberam cinco e dois talentos foram chamados de servos bons e fiéis por terem cuidado bem daquilo que pertencia ao seu senhor. Como recompensa, os que foram fiéis no pouco foram colocados no muito. Quanto ao que recebera um talento, e o enterrara, fora chamado de servo inútil, e rejeitado pelo seu senhor.
Se quisermos que Deus deposite em nossas mãos uma confiança maior, precisamos cuidar bem daquilo que Ele já nos tem confiado. Isto é mordomia!
Se não formos fiéis no pouco, jamais Deus nos colocará no muito. Se não conseguirmos administrar algo pequeno, como poderemos administrar algo maior?
Um exemplo clássico disso é a pessoa que deseja fazer a obra de Deus, sem conseguir governar a sua própria casa. Paulo afirma que o pastor deve governar bem a sua própria casa, tendo seus filhos sob disciplina, com todo o respeito “pois se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1 Tm.3:5).
Não podemos nos esquecer que, quanto maior a confiança que Deus depositar em nós, maior a nossa responsabilidade diante dos Seus olhos. Jesus disse:

“A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá.” Lucas 12:48b.

Jamais nos esqueçamos de que haverá um dia em que todos terão que prestar contas perante o Tribunal de Cristo (2 Co.5:10). “De modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm.14:12).

11 - A Comunhão entre os Discípulos

Nossa vida espiritual é profundamente afetada pelo tipo de sentimento que nutrimos acerca das pessoas com quem nos relacionamos. A vida emocional do ser humano é sobremodo complexa, e por isso mesmo, deve ser tratada com cuidados redobrados.
Se não tivermos uma vida emocional bem alicerçada na Palavra, nossos relacionamentos serão afetados, impossibilitando-nos de cultivar amizades dura-douras e uma vida espiritual plena.
Há uma palavra chave na Bíblia para compreendermos melhor tudo isso. Trata-se do termo COMUNHÃO ( Koinonia ).
O que é comunhão, afinal? É aquilo que une duas ou mais pessoas diferentes. Ter comunhão é o mesmo que ter algo em comum. Apesar das diferenças que temos, somos chamados à comunhão. E o que temos em comum? A fé em Cristo Jesus. E Paulo vai ainda mais longe, abrindo-nos o leque daquilo que é o fundamento da nossa comunhão. Ele diz que devemos procurar “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. E isto, porque “há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos” (Ef.4:3-6).
Não importa a criação que tenhamos recebido de nossos progenitores, ou o nível cultural que temos ou ainda a classe social a que pertencemos. O que nos une é infinitamente mais forte do que o que nos difere. Isso é comunhão.

· COMUNHÃO VERTICAL E HORIZONTAL

Existem dois tipos de comunhão apresentadas na Bíblia: a Comunhão Vertical e a Comunhão Horizontal, simbolizadas na Cruz de Cristo. A primeira é aquela que devemos ter com Deus, através de Seu Filho Jesus. A segunda é a que devemos ter com os nossos irmãos na fé. Na verdade, uma depende da outra.
Paulo afirma que Deus nos chamou “para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co.1:9). Isso é comunhão vertical. No versículo seguinte ele diz: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, para que sejais unidos no mesmo sentido e no mesmo parecer” (v.10). Veja que para Paulo, nossa comunhão com Deus estaria estreitamente ligada à nossa comunhão com os outros. Para ele, nossa comunhão com os irmãos não era apenas uma questão de fé. Por terem a mesma fé, deveriam também ter a mesma disposição mental, o mesmo parecer, caminhando na mesma direção.
João também faz um paralelo importante entre a comunhão com Deus, e a comunhão com os irmãos. Ele escreve:

“O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo (...) Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, TEMOS COMUNHÃO UNS COM OS OUTROS, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” 1 JOÃO 1:3, 6-7.

Para que a nossa comunhão seja autêntica, devemos nos dispor a partilhar o que temos recebido de Deus. Tudo o que Deus nos dá, é visando o bem comum de toda a família da fé. Se falharmos em comunicar (compartilhar) aquilo que Deus nos confiou, estaremos dando as costas ao Corpo de Cristo, e negando-lhe o suprimento necessário.
Imagine se os olhos se negassem a enxergar, o que seria de todo o corpo? E se a boca se negasse a abrir para ingerir o alimento, o que seria do resto do organismo? Assim como há uma interde-pendência entre os mais diversos membros e órgãos do corpo humano, há também uma interde-pendência entre os membros do Corpo de Cristo. Ninguém poderá receber a energia que provém de Cristo para viver, se não estiver devidamente ligado ao Seu Corpo, que é a Igreja. Qualquer um que se afaste da Igreja, está fora da comunhão, e por isso, a vida de Cristo já não pode fluir através dele. É como um membro amputado, cujo fim é apodrecer-se.
Há uma iteração entre os membros do corpo. Cada um con-tribui para o bem estar do resto do corpo, desempenhando o seu papel. Cada um dá, e ao mesmo tempo, recebe. Isso é comunhão! Numa bela exposição deste assunto, Paulo diz que Deus nos colocou no Corpo de Cristo, e que cada membro deve ser honrado, “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Co.12:25-26). Desta maneira, servimos e honramos uns aos outros em amor.
Quando vivemos esta comu-nhão, o sangue de Jesus flui em nós, purificando-nos de todo o pecado. Somos participantes de Sua natureza, de Sua vida, de Sua energia vital. Mas se nos separamos do Corpo, perdemos tudo isso, e aos poucos, morremos.
A Igreja primitiva entendia isso perfeitamente, e buscava viver essa unidade. Era, realmente, uma comunidade cristã. Em Atos encontramos um testemunho disso. Ali lemos que “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”(At.2:44).
E mais:

“Era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” ATOS 4:32.

Não era à toa que Paula chamava a Igreja de FAMÍLIA DA FÉ. Não era algo forçado, mas produzido pelo Espírito Santo no coração daqueles que tinham comunhão com Cristo Jesus.
Hoje em dia, as pessoas estão totalmente voltadas para si mesmas, e não conseguem compreender o que seja a comunhão entre irmãos. Até mesmo dentro das famílias não há mais união. Isto tudo é produzido pelo espírito do mundo, que leva as pessoas a viverem só para si mesmas, sem se importarem com ninguém mais. E este tipo de postura tem produzido uma sociedade cínica, sem es-crúpulos, e sobretudo, sem amor.
Não devemos pensar que este egoísmo que predomina no mundo seja algo recente. Ele é inerente ao próprio ser humano. O homem é egoísta por natureza. Já no tempo de Paulo havia este tipo de postura, como podemos notar na seguinte denúncia feita pelo apóstolo:

“A ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuido do vosso bem-estar. Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.” FILIPENSES 2:20-21.

O espírito do mundo ainda é o mesmo. Ninguém está preocupado com o bem-estar de quem quer que seja. A menos que seja por interesse próprio. Como diz o adágio popular, é cada um por si, e Deus por todos.
Porém Deus não pode ser por uma sociedade onde cada um é por si. A bênção do Senhor só se manifesta plenamente onde há união e comunhão (ver Salmo 133).
Escrevendo ainda aos Filipenses, o apóstolo diz:

“Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma COMUNHÃO NO ESPÍRITO, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai a minha alegria, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa.”
FILIPENSES 2: 1-2.

O que há em Cristo é pra ser compartilhado entre os irmãos. Se há conforto em Cristo, ele deve ser usufruído por toda a família da fé. Se há consolação de amor, ela deve ser partilhada entre nós. E isso só é possível quando temos o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, o mesmo ânimo, a mesma fé, o mesmo Espírito.
Quando vivemos esta comunhão, já não fazemos nada motivados por contenda, como quem deseja provar alguma coisa a outrem. Por isso Paulo complementa: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo” (v.3). Nossas motivações são outras, entre as quais, o bem comum. E mais: “Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (v.4). Aqui, Paulo diferiu um golpe no egoísmo predominante no mundo.
Diante de tudo o que lemos até aqui, deveríamos fazer uma avaliação sincera de nossa postura para com a Igreja de Cristo. Será que temos vivemos este tipo de comunhão? Ou será que estamos na Igreja por motivos egoístas.
Sabe por quê muita gente vem a Igreja, recebe uma bênção, e vai embora? Porque não integrou-se à comunhão dos santos. Estava na Igreja apenas visando o seu próprio bem-estar.
Quando uma pessoa não busca comungar com os irmãos, ela se torna uma pessoa vazia, oca, e fraca.
Nossa força espiritual depende muito da comunhão que desen-volvemos com Cristo, através da comunhão que temos com o Seu Corpo.
Por isso, o escritor sagrado insiste em que não deixemos de “congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb.10:25).
O que deve nos motivar a vir à Igreja não é a busca por solução de problemas, e sim a comunhão com os nossos irmãos. Desta maneira, compreendemos que Deus nos chama a dar, a oferecer, e não apenas a receber. Devemos vir à Igreja com o intuito de oferecer o que temos recebido de Deus. Se assim o fizermos, Deus sempre terá prazer em nos dar mais e mais.

10 - O Andar do Discípulo

Aquele que está em Cristo deve viver em amor, manifestando o fruto resultante de sua comunhão com o Espírito Santo. Entretanto, ainda estamos habitando em um corpo carnal, e por isso, estamos “sujeitos às mesmas paixões”. Em nosso espírito reside o mais puro amor derramado pelo Espírito que nos foi dado, mas em nossa carne habita outros tipos de sentimentos e impulsos com os quais precisamos aprender a lidar.
É de Paulo a declaração: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm.7:18a). Se há algum bem em nós, este bem está em nosso espírito, e não em nossa carne.
De acordo com a Escritura, “o que se une ao Senhor é um só espírito com Ele” (1 Co.6:17). Portanto, nosso espírito está perfeito, completo, não havendo nada para ser feito nele. Pelo simples fato de estarmos em Cristo, estamos completos! “Recebestes a plenitude em Cristo”, afirma Paulo em outra passagem (Col. 2:10). Porém, tudo isso é realidade na esfera do espírito.
Nosso espírito tornou-se receptáculo do amor de Deus, derramado profusamente em nossos corações (Rm.5:5).
A obra que Deus tinha para fazer em nosso espírito, foi feita na Cruz, quando “com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sempre santificados” (Hb. 10:14). Ao nos unirmos a Ele no momento em que nos convertemos, aquela obra passa a ser real em nossa vida. Portanto, nada há que possamos fazer para melhorar o que já está completo.
A despeito disto, temos que aprender a lidar com os impulsos latentes em nossa carne. Entre a carne e o Espírito há um árbitro: nossa própria alma. Se nossa alma (psiquê) aliar-se à carne, fatalmente seremos levados a atender aos seus apelos pecaminosos. Porém, se nossa alma aliar-se ao Espírito, nossa carne se renderá.
O que significa “andar em Espírito”, e “andar na carne”? Quando a Bíblia fala “no Espírito”, está falando da Natureza Divina que nos é infundida pelo Espírito Santo de Deus. Andar no Espírito eqüivale a atender aos impulsos gerados por esta Natureza Divina.
Pedro afirma que somos “participantes da Natureza Divina” (2 Pe.1:4). É a própria vida de Deus que está pulsando dentro de nós. Se atendemos aos seus impulsos, andamos de acordo com Deus, reproduzindo a vida de Jesus.
Não podemos confundir os termos. “Estar no Espírito” é uma coisa, “andar no Espírito” é outra coisa. Pode-se estar no Espírito, sem necessariamente andar n’Ele.
Nós estamos no Espírito desde o dia em que nos convertemos a Cristo. A partir daí, fomos tirados de Adão, e enxertados em Cristo. Portanto, estar em Cristo é o mesmo que estar no Espírito.
“andar no Espírito” são outros quinhentos. Estamos no Espírito porque recebemos a Cristo pela fé. Andamos no Espírito porque fizemos desta fé a prática da nossa vida. Vivemos em conformidade com esta fé. Paulo argumenta: “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl.5:25). Estar no Espírito é uma questão de fé, enquanto que, andar no Espírito é uma questão de prática.
João nos oferece um argumento bem semelhante ao de Paulo: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 Jo. 2:60). Há muitos que, embora estejam em Cristo, insistem em andar na carne. Isso é um contra-senso. Temos que andar de forma digna da vocação com que fomos chamados (Ef.4:1). A vida de Deus que flui através de nós precisa ser manifestada em nossa conduta. Paulo dava muito valor a isto. Segundo ele, o “mais importante”, é que devemos nos portar “dignamente conforme o evangelho de Cristo” (Fp.1:27).
Se a minha fé não afetar o meu andar cotidiano, eu estarei vivendo uma espiritualidade falsa, e não o verdadeiro cristianismo.
Uma vez que Cristo vive em nós, já não nos é impossível reproduzir Sua vida em nossa caminhada diária. Por isso, Paulo nos instruiu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor...” ( Ef.5:1-2a). Ora, andar em amor é o mesmo que andar em Espírito:

“Ninguém jamais viu a Deus; mas se amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é aperfeiçoado o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito (...) E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. DEUS É AMOR. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele."
1 João 4:12-13, 16.

Nossa comunhão com Deus deve ditar a nossa conduta neste mundo. Se de fato vivemos n’Ele, recebendo d’Ele Sua Natureza, devemos agir como Ele, amando, perdoando, e interagindo com o nosso semelhante da maneira como Cristo faria.
Somente os que estão em Adão vivem na carne. Porém, quanto a andar na carne, mesmo cristãos sinceros podem fazê-lo, caso não busquem no Espírito o poder para vencê-la.
Por isso Paulo não se cansava de exortar aos seus leitores a que não dessem lugar a carne: “Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz. A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”(Rm.8:5-9).
Quem ainda não foi removido de Adão não tem a menor chance de vencer as inclinações da carne. Pode até receber uma educação refinada, porém, quando menos se espera, a natureza adâmica se manifesta. Ademais, a carne jamais se converte. Daí a importância de andarmos constantemente no Espírito. “Andai no Espírito” insiste o apóstolo, “e não satisfareis à concupiscência da carne” (Gl.5:16).
E quem decide se vamos andar no Espírito ou na carne? A nossa alma. Se a nossa mente estiver renovada pela Palavra de Deus, ela sempre se aliará ao Espírito, e com isso, a carne com seus impulsos será sempre vencida.
Paulo diz que “a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito o que é contrário à carne. Estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl.5:17). Veja que neste texto há três elementos: o Espírito, a Carne, e o nosso “eu”, referindo-se aí à nossa alma, que é o centro de nossa vontade. Temos que dar ouvidos ao Espírito, e aliar-nos a Ele no combate à nossa natureza pecaminosa. É pelo Espírito que mortificamos as obras do corpo (Rm.8:13).
Enquanto a nossa mente (alma) não for renovada pela Palavra, a nossa carne predominará. Não podemos nos esquecer de que o Espírito trabalha em conjunto com a Palavra. Por mais que o Espírito nos tenha sido derramado, Sua obra em nossa vida vai ficar restrita ao conhecimento que tivermos da Sua Palavra. À medida que a alma vai absorvendo as verdades da Palavra, o Espírito vai transformando-nos à imagem de Deus, e sujeitando a nossa carne à servidão. “Portanto”, escreve Paulo, “rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”(Rm.12:1-2a).
Uma coisa está estreitamente ligada à outra. Não podemos apresentar os nossos corpos ao serviço do Senhor, sem antes termos a nossa mente renovada. Caso isso não aconteça, estaremos nos conformando a este mundo, isto é, adotando os seus padrões de comportamento, e não nos adequando à imagem de Jesus.

9 - As Marcas do Genuíno Amor - Continuação

8. O Amor Não Se Irrita - Quem ama não perde a compostura quando vê os seus direitos ameaçados. Ninguém há que possa provocar àquele que vive em amor. Esse não revida, não se irrita, antes, segue as pisadas de Cristo, que “quando foi injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava. Antes, entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe.2:23). Aquele que anda em amor, procura manter a calma, mesmo nos momentos de provocação, de escárnio, de zombaria.

9. O Amor Não Suspeita Mal - Há muita gente que enxerga o mal onde ele não existe. Tais pessoas se vangloriam de ter um faro aguçado para perceber quando alguém está intentando fazer-lhes mal. Vivem em busca de indicações, indícios, pistas para desmascarar quem lhe esteja tramando uma emboscada. Porém, aquele que é dotado de amor verdadeiro está sempre atento ao lado bom das pessoas, procurando realçá-lo, em vez de enxergar somente o seu lado ruim. Embora estejamos cientes de que ninguém é perfeito, devemos procurar enxergar os traços que cada pessoa conserva da imagem e semelhança de Deus. Ainda que o pecado tenha maculado a imagem de Deus nos homens, eles possuem algum traço divino que a graça divina manteve intacto. É esse traço divino que deve ser realçado quando nos relacionamos com as pessoas. Ele é como uma assi-natura deixada por Deus em uma obra Sua. Se enfatizarmos os defeitos uns dos outros, estaremos sempre esperando o pior do nosso semelhante, e isso não condiz com o amor que devemos dispensar uns aos outros. Suspeitar mal é esperar somente o pior de alguém. Mesmo quando a pessoa já tenha dado motivo para isso, devemos relevar, passando uma borracha no que passou, permitindo que na folha corrida do nosso coração nada conste contra ela.

10. Não Se Regozija Com A Injustiça, Mas Se Regozija Com A Verdade - O amor jamais se dá por satisfeito vendo alguém sendo injustiçado, ou comento alguma injustiça. Quem é movido pelo amor se sente chocado diante de um quadro de injustiça. Ver nosso semelhante passando fome, escravizado, caído, deveria fazer com que nos sentíssemos incomodados. Infelizmente, nossa sociedade perdeu o hábito de chocar-se diante das injustiças. Os jornais sensacionalistas fizeram com que a mais brutal das violências se tornasse algo banal. E o pior de tudo é que tem gente que aprecia esse tipo de coisa. Porém, os que praticam o Novo Mandamento de Deus não se acostumam com nada disso. Pelo contrário, aprecia o que Deus aprecia, e detesta o que Deus detesta. “Vós, que amais ao Senhor, detestai o mal” exorta Davi (Sl.97:10a). E Paulo diz: “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal, e apegai-vos ao bem” (Rm.12:9). Quem diz que tem o amor de Deus e não detesta o que é mal aos Seus olhos, está vivendo uma farsa religiosa, um amor fingido. “Pois eu, o Senhor, amo a justiça; odeio o roubo e a iniqüidade”(Is.61:8a). Alegrar-se diante do que é errado é contrariar o coração de Deus. Nosso coração precisa bater no compasso do coração de Cristo. O que Ele ama, deve ser o que nós amamos. O que Ele abomina, deve ser o que nós abominamos. Quando experimentamos isso, a promessa de Deus para Cristo é estendida a nós também. Eis a promessa: “Amaste a justiça, e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros” (Hb.1:9). E como devemos agir para com aqueles que praticam coisas abomináveis a Deus? Devemos amá-los, porém, reprovando e detestando o seu pecado. Muitos cristãos se sentem bem por não praticarem alguns pecados. Entretanto, o simples fato de apreciarem tais práticas (ainda que não as pratiquem), os faz cúmplices daqueles que as cometem. Paulo nos aconselha a não sermos cúmplices das obras infrutuosas das trevas, antes porém, devemos condená-las (Ef. 5:11). Deveríamos sentir nojo de tudo aquilo que desagrada ao nosso Pai Eterno. Ao mesmo tempo, deveríamos desejar e amar a tudo quanto trás alegria ao coração de Deus.

11. O Amor Tudo Sofre - A palavra traduzida neste texto por “sofre” deriva de um termo grego que significa “telhado”. Pra que serve o telhado? Para cobrir, proteger, suportar a tempestade, promovendo o bem-estar de quem se acolhe no interior da casa. É nesse sentido que o amor se dispõe a sofrer todas as coisas. Não se trata aqui de sofrer por sofrer. O amor não é masoquista! Trata-se sim da disposição de quem ama em, se necessário, dar sua própria vida pela pessoa amada. O importante é oferecer cobertura à pessoa amada, a fim de poupar-lhe do sofrimento. Preferimos ser atingidos a ver nosso semelhante atingido. Isso nada mais é do que amor.

12. O Amor Tudo Crê - Ao invés de nutrir qualquer desconfiança acerca do seu semelhante, quem ama prefere arriscar, e confiar, ainda que as evidências sejam desfavoráveis. As pessoas que nos cercam têm defeitos, assim como nós. Porém, para que suas qualidades sejam manifestadas, elas precisam de encorajamento, através de alguém que ouse crer em seu potencial. Nada é mais estimulante do que saber que há alguém torcendo por nós, e crendo no nosso êxito. É sobre isso que o escritor de Hebreus fala aos seus leitores: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb.10:24).

13. O Amor Tudo Espera - E quando a pessoa em quem acreditamos não corresponde às nossas expectativas, e nos decepciona? A resposta é: O amor tudo espera. A certeza acerca da obra que Deus está por concluir na vida de alguém, é que nos mantém esperançosos. Paulo escreve aos Filipenses: “tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus” (1:6). Portanto, vale a pena esperar. A Bíblia diz que há um tempo para todo o propósito debaixo dos céus. Não precisamos ficar afobados, ansiosos e inquietos. Se toda a expectativa que investimos em quem amamos não for correspondida agora, não devemos simplesmente desistir de amá-lo, mas continuar esperando que o propósito de Deus se cumpra em sua vida.

14. O Amor Tudo Suporta - O amor nunca cede lugar a qualquer outro sentimento. Ele resiste até o fim, suportando as afrontas, os deslizes, as falhas humanas. Ele tolera as perseguições, e até o martírio, se necessário. Como diz o sábio Salomão: “As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (Cant.8:7).

15. O Amor Jamais Acaba - É realmente uma fonte inesgotável. Todas as coisas chegam ao fim um dia, porém, o amor existirá enquanto Deus existir. Ele é co-eterno com Deus. Afinal, “Deus é amor”. Até as manifestações dos dons espirituais hão de cessar um dia. “Havendo profecias, cessarão; havendo línguas, desaparecerão; havendo ciência, passará”. Tudo é transitório, com exceção do amor. “Agora” conclui o apóstolo, “permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor, mais o maior destes é o amor” (1 Co.13:13). Esse é o caminho mais excelente que Paulo se propusera a mostrar-nos. Nada supera o amor; nem mesmo a fé, ou qualquer outro dom. Quando tudo houver chegado ao fim, o amor prevalecerá.

8 - As Marcas do Genuíno Amor

Como é difícil definir o amor! É tão difícil quanto definir Deus, e isso, porque Deus é Amor. A melhor maneira de entendê-lo seria enumerar as suas características. E é isso que Paulo faz em 1 Coríntios 13. Ele escreve:

“O amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece. Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha.” I AOS CORÍNTIOS 13:4-8a

Após demonstrar o valor do amor, Paulo nos aponta algumas caracte-rísticas que vêm autenticar o amor verdadeiro. Neste estudo, nós vamos examiná-las uma a uma.

1. O Amor é Paciente - A palavra usada aqui pode significar “constância”, “tolerância” ou “longanimidade”. Quando dizemos que o amor é constante, estamos descrevendo-o como um sentimento que não está propenso a altos e baixos. Ele é tolerante porque se dispõe a suportar muitos deslizes da pessoa amada. Ele é longânimo tendo em vista o fato de ele ser lento em irar-se. O amor sabe esperar; sabe refrear a ira na hora em que ela está prestes a despontar.

2. O Amor é Benigno
- O vocábulo grego usado aqui significa “gentil”, e aponta para o fato de que o amor está sempre disposto a ser demonstrado. O amor não apenas aproveita as oportunidades para fazer o bem, como também as busca. Quem ama não teme demonstrar o que sente. Podemos afirmar que a bondade é a evidência da presença do amor no coração do cristão. Enquanto ser paciente denota uma atitude passiva, ser benigno denota uma atitude ativa. Enquanto esperamos pacientemente, nos dispomos a agir em favor daquele a quem amamos.

3. O Amor não tem inveja - Uma vez que o amor nos faz favoráveis ao próximo, jamais poderíamos nos sentir incomodados com o sucesso e a felicidade alheias. Pelo contrário, ver um irmão em uma situação melhor do que a nossa, deverá suscitar em nós um sentimento de gratidão a Deus. Uma pessoa despeitada não está vivendo em amor. Não devemos invejar cargos, posições, bens materiais, dons espirituais ou qualquer outra coisa. A inveja faz mais mal ao invejoso do que ao invejado. Não cremos que a inveja em si possa prejudicar quem quer que seja, pois não possui poder algum. O problema da inveja são as atitudes que ela pode produzir por parte de quem a nutre.

4. O Amor não se vangloria - Quem ama não se deixa levar pela vanglória, por um motivo muito simples: reconhece que não possui nada que não tenha recebido de outrem. Vangloriar-se é se auto-exaltar, achando que possui algum bem cuja origem é seu próprio ser. Vangloriar-se é achar-se diferente dos demais, gozando de privilégios a que nenhum outro tem direito. Alguns se vangloriam no que têm, e outros no que fazem. Paulo escreve aos Coríntios: “Pois quem tem faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras re-cebido?” (1 Co.4:7). Quem ama não se vangloria nem do amor que possui, pois sabe que a origem desse amor é Deus, e não o seu próprio ser. Ao invés de vangloriar-se, quem vive em amor gloria-se no Senhor. Isto é, reconhece-O como a fonte de todo o bem. No dizer de Paulo, “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co.1:31).

5. O Amor não se ensoberbece - No original, ensoberbecer-se significa literalmente “inchar-se”, e tem a conotação de atribuir grande importância a si mesmo. Ao invés disse, as Escrituras nos instruem a considerarmos os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3). Quem está cheio de amor próprio, só se preocupa em se auto-afirmar, em provar o seu valor aos outros. Toda pessoa soberba vive fazendo propaganda de si mesmo. Paulo, ainda que fosse o maior dos apóstolos, não se ufanava disso. Ele mesmo escreveu aos Coríntios: “...que ninguém pense de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve” (2 Co.12:6). Quem ama está preocupado em valorizar o próximo, e não a si mesmo.

6. O Amor não se porta inconvenientemente - Em outras palavras, o amor preza pelas boas maneiras. Cada atitude a ser tomada, deve ser pautada pelo bom senso. Jamais se deve agir de maneira arrogante, ferindo ou incomodando a outros. Aquele que não vive em amor, não se importa com o incômodo que suas ações poderão produzir ao próximo. Quando se vive em amor, preocupa-se com o decoro, com a decência, com os bons modos. Ainda que tenhamos que sacrificar a nossa liberdade, não podemos visar o nosso próprio bem-estar. É isso que dita a nossa conduta. Escrevendo aos Romanos, Paulo diz: “Um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come, e o que come não julgue o que come, pois Deus o recebeu por seu (...) quem come, para o Senhor come, pois dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Pois nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor (...) Portanto, não nos julguemos mais uns aos outros. Antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (...) Se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu (...) Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus (...) Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça (...) Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Pois também Cristo não agradou a si mesmo...” (Rm.14:2-3,6-8,13,15,19-20a,21; 15:1-3a).

7. O Amor não busca seus próprios interesses - Numa outra tradução, o amor não insiste sobre os seus próprios direitos. Os que vivem em amor não buscam tirar vantagem em cima dos outros. “Que lucro essa pessoa pode me dar? Como posso usá-la para meus próprios benefícios?” Perguntas como estas surgem na mente de quem não sabe o que é o amor. Quem vive o amor de Deus pergunta a si mesmo: “Como posso beneficiar o meu irmão?” Ainda que isso signifique sofrer algum prejuízo. Um exemplo disso, encontramos na epístola de Paulo a Filemon. Este era um homem proeminente na sociedade, e havia se convertido à fé cristã. Quando Paulo estava preso, conheceu na prisão um homem chamado Onésimo, que havia sido escravo de Filemon, mas tinha fugido, dando prejuízo ao seu senhor. Paulo o evangelizou, e o conduziu a Cristo. Logo após, Onésimo foi solto. Paulo, então, escrevendo ao a Filemon, pede que este o receba como se estivesse recebendo o próprio apóstolo, “não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado (...) Portanto” roga Paulo, “se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-a na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de meu próprio punho, o pagarei” (Fm.16-19a). Assim age quem ama. Ainda que se tenha de sacrificar em favor de seu semelhante.

7 - A Prática do Amor

Não é difícil dizer que se ama alguém mais do que a própria vida. Difícil é demonstrar esse amor de forma prática.
Em sua primeira epístola, João, conhecido como apóstolo do amor, nos aconselha:

“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”
I JOÃO 3:18.

O amor que Deus tem derramado em nosso coração, não deve ser ocultado. Este amor precisa ser expressado, e não só com palavras, mas também com atitudes. Qualquer sentimento que não nos leve à ação, pode ser chamado de tudo, menos de amor. O amor não é retórico, é prático.
Logo após ter dito que devemos dar a vida pelos irmãos, João nos oferece um exemplo do que seja isso. Ele diz: “Quem tiver bens no mundo e, vendo o seu irmão necessitado, cerrar-lhe o seu coração, como estará nele o amor de Deus?” (v.17). Tiago faz semelhante comentário, ao perguntar: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz; aquentai-vos e fartai-vos, mas não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” (Tg.2:15-16).
Quem ama se dá. Quem ama se expõe. Quem ama age em favor da pessoa amada. Jesus diz que “Deus amou o mundo de tal maneira que DEU o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16).
O amor que temos pelos irmãos é o eco do amor de Deus por nós. Ele nos amou a ponto de Se dar por nós; nós devemos amar a ponto de nos dar por eles.
Escrevendo aos Coríntios, Paulo dá testemunho do amor que os Macedônios demonstraram a ele, e aos seus companheiros. Ele testifica: “E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus” (2 Co.8:5).
De acordo com o testemunho do apóstolo, as igrejas da Macedônia estavam em aperto, passando por uma dura tribulação. Porém isso não as impediu de demonstrar o seu amor pela causa do mestre, enviando ofertas para o ministério de Paulo e para os cristãos de Jerusalém que estavam em maior aperto que eles. Isso sim é amor! Amor que dá ao invés de reter. Amor que se expõe ao invés de escusar-se. Amor que visa o bem de outrem, ao invés de visar o seu próprio bem.

· Amor Real versus Pseudo-amor

O amor próprio às vezes se camufla tão bem, que se faz passar por amor cristão. É preciso que estejamos atentos a isso.
O amor próprio pode produzir obras tais que venham iludir-nos. Por exemplo: Paulo diz em seu famoso capítulo 13 de 1 Coríntios, que é possível manifestar “dons espirituais” sem com isso ter amor. A carne é capaz de imitar muitas manifestações espirituais. Falar em línguas, por exemplo, não é o verdadeiro sinal de que alguém tenha recebido o Espírito Santo. O sinal real que comprova a presença do Espírito Santo em alguém é o amor. Se não houver amor, as línguas não vão passar de barulho. Nada mais serão do que palavras desconexas, fluindo “como o metal que soa, ou como o sino que tine” (v.1). Profetizar, conhecer os mistérios, aprofundar-se na ciência, tudo isso é acessório. O essencial é o amor ! Profecia sem amor não cumpre o seu papel, pois só exorta, mas não edifica, não consola. Tudo que o profeta quer é ser visto, ser notado. O outro é apenas o ouvinte. O profeta sim é que o “importante” ! Ele é o portador da mensagem divina! Isso tudo é vaidade! Quando há amor, o profeta entende que ele é apenas veículo de Deus, que visa o bem do outro. Conhecer os mistérios sem amor não passa de gnosticismo. Quando somos movidos pelo amor, queremos conhecer os mistérios para compartilhá-los, e não para deleitar-nos, ou sentir-nos superiores aos demais.
E o que dizer da fé? E se tivermos toda a fé do mundo, a ponto de transportarmos os montes? Paulo diz que se não tivéssemos amor, nada sería-mos. Isso quer dizer que fé sem amor não é nada. É puro sensacionalismo ! É truque. Ou talvez, força da mente. O que importa” diz Paulo, “é a fé que opera pelo amor” (Gl.5:6). O que passar disso é exibicionismo.


· FILANTROPIA SEM AMOR

Paulo vai mais longe ainda. Ele desmascara o amor próprio que se faz passar por amor verdadeiro. Ele diz que é possível que o indivíduo distribua toda a sua fortuna para os pobres sem ser movido pelo amor. Nós estamos cansados de ver isso na época de política. Muita gente sai por aí distribuindo comida, roupa, e até dinheiro, apenas para se promover. Isso não é amor, é marketing ! Amor é uma coisa, auto-promoção é outra totalmente diferente. Tanto é verdade que, o nome de tais indivíduos sempre vai estampado nos caminhões, nas camisetas e etc. A verdadeira filantropia é aquela que Jesus apresenta, quando diz: “Guardai-vos de praticar vossos atos de justiça diante dos homens, para serdes vistos por eles. Se o fizerdes, não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Portanto, quando deres esmolas, não façais tocar trombeta diante de ti, como os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas quando tu deres esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada secretamente. Então teu Pai, que vêm em secreto, te recompensará” (Mt.6:1-4).

· MÁRTIR ou HERÓI ?

Paulo também diz que é possível entregar-se para ser queimado como um mártir sem ser movido por amor. Infelizmente há pessoas que amam mais o seu nome do que a sua própria vida. Isso também é uma variação do amor próprio. Por isso, desejosos de terem seus nomes na história, são capazes de atos heróicos, como morrer por uma causa. As páginas dos livros de História estão cheia de exemplos disso. O verdadeiro mártir é aquele que morrer por amor ao seu semelhante, ou por amor à causa do Mestre, e não em função de uma posição política, ou ideológica. Uns dizem: - Morro, mas não abro mão das minhas idéias, dos meus sonhos. Isso também não passa de amor próprio. O verdadeiro mártir é aquele que morre desejando a salvação dos seus semelhantes. Até na hora da morte, seu foco está direcionado em seus semelhantes. Um exemplo clássico disso foi a morte de Estêvão. Enquanto estava sendo apedrejado, “pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu” (At.7:60). Com o coração tomado pelo amor de Deus, podemos afirmar que na hora de sua morte, houve em Estêvão o mesmo sentimento que houve em Cristo. Foi em Jesus que Estêvão inspirou-se para fazer aquela oração. Do alto da cruz, esvaindo-Se em sangue, Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc.23:34). Isso é que é amor ! Amor de verdade é aquele que perdoa. Amor real é aquele que nos faz esquecer de nosso próprio sofrimento, para preocupar-nos com o sofrimento alheio.